quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Fim da História...


Estava na varanda hoje.
Aí eu escuto um barulho lá embaixo.
Uns caras cantando, um batuque.
Quando eles “dobram” a esquina, aparece uma bandeira.
República Democrática Alemã!
Ou Alemanha Oriental.
Extinta há quase 20 anos.
Esses caras são os “Madjermanes”.
Ma-djermanes
Em “changana”, o plural é feito com um “Ma” antes do radical.
E “djermanes” é uma adaptação de Germany.
Que é Alemanha em “inglês”.
São os “alemães”.
Mas detalhe pro novo plural.
Djermanes.
É o plural em português do nome em inglês da Alemanha.
Escrito em changana.
Também no plural.
Que beleza!
A Alemanha Oriental era socialista.
Naquela época, Moçambique também.
E aí vários moçambicanos foram trabalhar lá.
E o governo “alemão oriental” repassava a verba pro governo daqui.
Tipo uma “empresa socialista”.
Mas em 1989 caiu o Muro de Berlim.
Culpa dos Madjermanes?
Não, nem tanto.
Mas eles tiveram que voltar pra Moçambique.
E foram buscar o dinheiro que os soviéticos mandavam.
Soviéticos, alemães, moçambicanos, enfim...

Tudo parte da mesma multinacional.
Obviamente que não conseguiram nada.
Esperado, diga-se de passagem.
Mas aí eles ficaram bravos.
Invadiram a embaixada alemã aqui.
Invadir a reitoria da USP é fácil.
Basta uns crafts e uma festinha.
Quero ver invadir a embaixada alemã em Moçambique.
Mas enfim, desde que eles voltaram estão fazendo barulho.
Todas as semanas, pra ser mais exato.
Cantando e batucando pelas ruas de Maputo.
E eu vi eles hoje.
E é isso.
Fim da história.
E da História.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dica cultural "d'além mar"...

Como todos sabem, estou em Maputo.
Mas "espiritualmente" em São Paulo.
Então dá até pra dar uma dica cultural.
Infelizmente não vou poder participar.
O avião é muito caro.
E eu já vi quase todos os filmes.
Mas então.
Essa semana é a Semana da África aí em Sampa.
E o Cineclube (Rua Augusta, 1239) vai projetar uns filmes.
Na verdade três.
Sempre às 19h.
Dia 26/05 (HOJE, terça-feira)
Hotel Ruanda
Único que não vi, mas ouvi falar bem.
Acho que vale a pena.
Dia 27/07 (AMANHÃ, quarta-feira e aniversário do Eyder!)
Diamante de Sangue
Meio baboseira, Holywood, com Leonardo di Caprio e etc.
Mas foi filmado aqui em Maputo!
Quem quiser assistir minha cidade atual, vale a diversão.
Dia 28/05 (quinta-feira)
Bamako
Esse é muito bom, mesmo!
Tentei fazer uma cópia aqui, mas não consegui.
Se tiverem que escolher, escolham esse.
E desculpem se não gostarem.
O que é bem possível.

Não sei o preço.
Nem sei se é pago.
Mas acho que vocês estão um pouco mais perto pra descobrir.
Ou querem que eu ligue pro Cineclube?

Para mais:
http://www.forumafrica.com.br/semana_africa.html

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Um rápido encontro...

Sabe quando você se identifica com uma pessoa?
Não estou falando de amor, amizade eterna e etc.
Sem hipocrisia.
É uma coisa muito mais simples que isso.
Bem menos profunda.
Bem mais espontânea.
Você conhece uma pessoa e rapidamente se sente à vontade.
Sem precisar saber de onde veio, o que faz.
Na verdade isso não importa.
Importa é que você fala de maneira aberta com ela.
Fala só besteira, a idéia é só dar risada mesmo.
Não importa que a pessoa tenha mais que o dobro da sua idade.
Que more em outro país.
Mesmo assim você se identifica.
E fica conversando até as 4 horas da manhã.
Bebendo vinho.
Contando experiências de vida.
Eu dos meus 23 anos a serem completados amanhã.
Ele dos seus mais de 50 terminados ontem.
Há poucos anos tinha descoberto a natação.
E fazia planos.
Não pra ser o Michael Phelps.
Pra ser o Zé.
Já tinha subido o Kilimanjaro.
O Monte Binga.
A Serra da Gorongosa.
E agora queria ir nadando da Robben Island até Cape Town.
E com certeza o faria!
Mas dessa vez não vai dar.
Talvez por causa daquela noite bebendo vinho.
E espantando mosquitos...
Sabe-se lá porquê, eu não fui picado.
Mas o Zé não teve a mesma sorte.
Depois da viagem ele voltou pra Johannesburgo.
Nunca mais falei com ele.
Na verdade não sei quando falaria com ele de novo.
Se falaria.
Até ontem.
De um dia pro outro estava em coma.
Malária.
O mundo primitivo é implacável.
E enquanto amanhã eu comemoro mais um ano.
Ele sai da contagem.
Ah, as coincidências.
Nem me atrevo a entender.
Mas apesar de tudo...
de terem sido só 7 dias de convivência.
Acredito que encontrei um amigo.
Como diria Vinícius de Morais:
“Amigos você não faz. Você reconhece...”
Então prazer em vê-lo, Zé!
E até a próxima!

domingo, 10 de maio de 2009

Comida Típica da África Austral


Não, não é um ensopado de cérebro de macaco.
Também não é um banquete afrodisíaco sagrado.
A vida é mais simples do que parece.
Comida é cultura!
E por isso renova-se.
Os costumes mudam.
E com a comida não seria diferente.
“Comida Típica”!
O que se quer dizer com “comida típica”?
Aquela receita tradicional que você só come uma vez no ano?
Ou aquela que você come todos os dias?
Aquela que usa os mesmos ingredientes há 500 anos?
Ou aquela que não tem medo de usar ingredientes gringos?
Gostem ou não, a Coca-Cola é mais consumida do que água.
Gostem ou não, a batata-frita é quase uma unanimidade mundial.
Pra alegria dos tradicionalistas, nada substitui o “xima”.
E num oferecimento indiano, o frango é com MUITO “piri-piri”.
Que também atende pelo nome de “pimenta”.
E é pra comer com a mão!
O garfo na foto é mera inexperiência.
Já corrigida.
Pode não ser a refeição mais recomendada pelos nutricionistas.
Mas mata a fome que é uma beleza.
Além de ser uma das opções mais baratas.
Em Moçambique, na África do Sul e em Botswana.
No mínimo!
Viva a integração regional!
Viva a gastronomia do cotidiano!
Ou seria “comida típica”?

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Uma imagem vale mais...

Antes de mais nada, o crédito da foto é do Bruno.
Depois eu pago os royalties.
Dá pra viajar longe na foto.
Ou achar que eu estou maluco.
Boa reflexão!

domingo, 3 de maio de 2009

Viagem e "Viagens"...

Nossa imagem da África é bem romantizada.
Animais selvagens.
Tribos isoladas no meio do continente.
Uma natureza intocada.
Paisagens deslumbrantes.
O “mundo primitivo”.
Aí cheguei aqui ano passado e vi que não era bem assim.
Vivi um ano num ambiente urbano.
Claro, Maputo é bem diferente de São Paulo.
Mas com quase tudo aquilo que eu estava acostumado.
Supermercados, cinemas, vida noturna, Coca-Cola e etc.
Fui à Johannesburgo, viajei pra outros lugares.
E aos poucos fui desmontando essa imagem romântica.
O mundo muda.
E aqui não é diferente.
Construí uma visão mais “atual” da África.
Pelo menos do Sul da África.
Globalização, Comunicação, grandes cidades.
O “mundo contemporâneo”.
Mas essa semana levei uma rasteira.
A viagem à Gorongosa bagunçou minhas convicções.
É bem mais fácil dividir as coisas.
“Primitivo” de um lado, “Contemporâneo” do outro.
Ou um, ou outro.
Imutáveis
Chegamos até a acreditar que eles existem...
A viagem começou contemporânea.
Foi patrocinada por grandes empresas.
Fomos de avião até a cidade da Beira.
Os tempos mudaram.
Lá alugamos três “4x4” pra seguir nosso roteiro.
“Nosso”, afinal éramos 12.
De quatro nacionalidades diferentes.
Viva a globalização!
Primeiro destino: uma gruta de morcegos.
Chegamos e entramos na gruta, certo?
Errado.
A gruta não é nossa.
Numa pequena comunidade, moram os “guardiões” da gruta.
Pra entrar lá, há um ritual a ser cumprido.
Temos que ser aceitos.
Mundo primitivo?
Para o ritual, levamos muito vinho e cigarros.
Dizem que se aproveitam dos turistas pra ganhar em cima.
Não duvido (e imagino que seja isso mesmo!).
Mas o ritual não é pura invenção.
Enganar turistas e seguir tradições não são excludentes.
Fizemos e fomos aceitos.
Quer dizer...
Houve um pequeno probleminha.
Os espíritos queriam “suruma” (maconha), e não tabaco.
Juro que não sei em quem acreditar.
Mas entramos.
A gruta foi incrível.
Linda, enorme.
Nunca vi tanto morcego junto.
Voando na nossa cara.
Literalmente “cagando e voando” pra gente (ou na gente).
Acampamos com barracas e uma grande infra-estrutura.
Afinal, à noite faz frio.
Para nós.
Os guias dormem ao relento.
Primitivos.
De lá seguimos para subir a Serra da Gorongosa.
Uma trilha aparentemente inóspita, isolada.
Impossível viver num lugar tão distante.
Para nós, contemporâneos, claro.
Quanto mais isolado o lugar, maior a surpresa.
Do meio dos matos mais improváveis, surgiam pessoas.
Sim, pessoas, por que não?
Porque vivem isoladas e no meio do mato não são pessoas?
Olhavam-nos e sorriam, cumprimentavam.
Sinceramente, não sei o que pensam quando nos vêem.
Se nos vêem como mais avançados.
Se nos vêem como uns atrasados.
Se nos classificam assim, estúpida e hierarquicamente.
Mas sorriem.
Às vezes estranham.
Bom, até eu estranharia.
Alguns acordam logo cedo e sobem ao cume pra caçar insetos.
Pra comer!
Comer insetos!
Primitivos?
Fome?
Mas afinal qual o problema em se comer insetos?
Melhor tomar uma Coca-Cola?
No ponto mais alto da Serra, um homem vive sozinho.
Vive a 1850 metros de altura, no meio das pedras.
Sozinho.
É o guardião do cume.
Mas não é um guardião espiritual.
É um guardião da Motorola.
Que colocou lá uma antena e tem medo de ladrões.
Atrapalhando um pôr-do-sol dos mais lindos que já vi.
Mas permitindo a comunicação entre os homens
É o Deus Motorola e seu fiel guardião.
Primitivo, contemporâneo?
Sei lá.
Sei que nosso último destino foi o Parque da Gorongosa.
No meio do nada, um esforço pra chegar, mesmo de 4x4.
Fomos fazer safári, ver animais selvagens.
Leões, elefantes, hipopótamos, uma natureza intocada!
Mas com uma infra-estrutura inacreditável.
Chalés, piscinas, jantar a 450 meticais!
Mas queriam o quê?
Mordomia no meio do nada?
Num lugar lindo?
E ainda por cima pagando barato?
O mundo não é perfeito.
E por isso não vimos nenhum grande animal.
“Mas eu paguei (caro!), cadê os leões, os elefantes?”
Não importa as paisagens das mais lindas que você já viu.
Você pagou pelos leões.
No mundo contemporâneo é assim.
Tudo se paga.
Como se o mundo fosse seu.
Mas o leão não está nem aí pra você.
O leão não é contratado pra aparecer pra você.
Ou é.
Fizemos o safári no 1º de Maio.
Feriado.
Dia do Trabalho.
E não se trabalha no Dia do Trabalho.
Trabalho, o orgulho do homem contemporâneo!
Afinal, o homem contemporâneo trabalha.
E o progresso é fruto do trabalho.
Como se caçar insetos não fosse um trabalho.
Como se viver com a natureza não fosse progresso.
Como se contemporâneo e primitivo significassem alguma coisa.

*Primeiramente quero agradecer todos aqueles que compartilharam comigo uma das melhores viagens que já fiz na vida.

E avisar aos que não foram que como fui sem máquina fotográfica, mando fotos depois que conseguir com o pessoal felizardo que também fez a viagem.