Moçambique é
fronteira.
Fronteira enquanto
espaço de transição.
Entre Estados ou entre
culturas.
Moçambique é a
fronteira sul do islamismo.
Fronteira sudoeste da
cultura indiana.
Fronteira entre esses
mundos e o universo bantu.
Se é que ainda é
possível falar nesses termos.
E há muito tempo é
assim.
Mesmo antes dos
europeus chegarem.
Moçambique também é
fronteira de expansão.
Território a ser
explorado.
Fronteira de expansão
da China.
De seus produtos e de
sua busca por minérios.
Fronteira de expansão
brasileira.
Pública e privada.
De Embrapas e Vales.
Fronteira de expansão
do capitalismo financeiro.
O Banco Mundial não
está lá se divertindo.
Muito menos os EUA.
Mas Moçambique não é
só fronteira.
Transição, margem,
periferia.
Moçambique também é
centro.
É central.
Central para a África
Austral.
Saída para o mar de
quase todos os países vizinhos.
Swazilândia, Zimbabwe,
Zâmbia, Malawi.
Seu sistema de
transportes comprova.
A circulação é voltada
para fora.
Mais do que integrar o
país, integra a região.
Mas Moçambique não é
central apenas para seus vizinhos.
É central, sobretudo,
para os moçambicanos.
O centro de seus
mundos.
A referência deles
perante o mundo.
Vêem e organizam o
mundo a partir de Moçambique.
E é dali que o mundo
se irradia.
Não existem lugares
periféricos.
Todo lugar é central.
Central para quem está
nele.