Nasci em 1986, ano de
Copa.
Tinha pouco mais de um
mês de vida durante o torneio.
Por mais que me
esforce, não lembro de nada.
Mas vi uma foto.
Meu pai todo de
amarelo, com faixa na cabeça.
E eu no colo.
Em 1990, minha
primeira lembrança.
O gol do Caniggia,
Brasil eliminado.
E meu primeiro álbum
de figurinhas.
Mas o clima de Copa eu
comecei a sentir em 1994.
E assim foi em 1998,
2002, 2006 e 2010.
Ruas decoradas.
Chão pintado de verde
amarelo.
Bandeirinhas
penduradas.
Lembro, em 2002, de ir
ao Morumbi.
Era o último jogo do São
Paulo antes da Copa.
Teve até bandeirão pra
seleção.
Uma euforia total.
Enormes discussões
sobre a convocação.
E me parece que sempre
foi assim.
Ganhei da Aline dois
livros sobre a história das Copas.
Um sobre os bastidores
do jornalismo.
O clima das coberturas
do evento.
Do Nelson Motta.
E outro de crônicas de
jornal.
Escritas pelo Carlos
Drummond de Andrade.
Muito bom, aliás.
Além dos livros, ouvi
relatos.
Principalmente do meu
pai.
E ao que parece, a
Copa sempre parou o Brasil.
Pra bem e pra mal.
Em função dos jogos,
claro.
Porque agora a história
é outra.
As ruas estão normais.
Só vi um murinho
pintado na Corifeu.
Poucos falam sobre os
jogos.
A convocação não
animou nem os jornalistas.
Parece que só o álbum
vingou.
O que não significa
que o Brasil não parou.
Pelo contrário.
Esse ano a Copa é por
aqui.
E não está fazendo
muito sucesso não.
Pra ser educado.
Todos estão entrando
em greve.
Literalmente parando o
país.
E com razão.
Como sempre, ano de
Copa é ano de eleição.
E se futebol e política
sempre andaram juntos.
Esse ano o céu é o
limite.
O Ronaldo que o diga.
A seleção, então, está
longe de ser amada.
Tudo bem, faz tempo
que ela não o é.
Principalmente porque
ela não vinha nunca ao Brasil.
Nem jogar, nem
treinar.
Esse ano ela veio.
E a desculpa não cola
mais.
Parece que o bicho
pegou na apresentação.
Gente protestando.
Chutando o ônibus.
Que nem era o oficial.
Na tentativa de
despistar.
Não que o Brasil todo
concorde com isso.
Mas parece que também
não tinha ninguém apoiando.
A Copa veio pro
Brasil.
O clima de Copa não.
Na verdade, veio outro
clima.
Veio não, surgiu aqui
mesmo.
Um clima de protesto.
De opiniões
contundentes.
De rivalidade ideológica.
De tudo, menos
futebol.
O único comentário
futebolístico é sobre o título.
Se o Brasil perder, o
couro come.
Se ganhar, tudo é apaziguado.
Como sempre foi.
Ainda que, dessa vez,
eu tenha lá minhas dúvidas.