segunda-feira, 30 de junho de 2014

Por que eu torço pelo Brasil na Copa


Não sou a favor da CBF.
Mas uso a camisa da seleção nos jogos da Copa.
E a minha camisa tem um símbolo da CBF.
A princípio não deveria usar.
Mas uso.
A razão é banal.
Não tenho outra.
Uma camisa amarela não faz as vezes.
A da seleção identifica.
Todos na rua sabem que sou brasileiro.
Mas é legal vestir a camisa.
Simplesmente quero me identificar.
Quero torcer.
Também não gosto da FIFA.
Gostaria de ser contra o futebol moderno.
Que hoje é sinônimo de futebol profissional.
Sem ingenuidades.
Não é só a primeira divisão.
Tem o cara da quarta divisão.
Do futebol piauiense.
Que joga pra ganhar dinheiro.
Eu sei que ele gosta de jogar bola.
Mas é o emprego dele.
E passa pela CBF.
Pela FIFA.
Quisera os problemas fossem só o futebol.
Não gosto da CBF.
Não gosto da FIFA.
Mas vejo a Copa.
E torço pelo Brasil.
Pelo time da CBF na Copa da FIFA.
O pensamento crítico encontra uma barreira.
A razão, por si só, não deixaria.
Não faz sentido.
É tudo business.
É tudo espetáculo.
A sujeira corre solta.
Mas não consigo acreditar que é comprado.
O juiz pode ser meio tendencioso.
Mas nada compra um golaço.
Uma bomba do meio campo.
Uma Costa Rica.
E no meio disso tudo, me pego torcendo.
Reclamando do passe errado.
Passando a mão no cabelo no perigo adversário.
Comemorando um gol.
Vai Neymar!
Dane-se seu salário.
Dane-se sua cueca.
Dane-se suas bananas.
Eu quero mais é escalar o time.
Falar onde tinha que cruzar a bola.
Como que tinha que finalizar.
Quem deveria entrar.
A falta que não podia fazer.
A mordida que não podia dar.
Saber se você concorda.
Saber se você discorda.
Saber quem você escalaria.
Onde você cruzaria a bola.
Como você finalizaria.
Em quem você faria a falta.
Quem você morderia.
A questão é simples.
Não consigo torcer contra.
Eu vejo o jogo e torço.
Não sofro muito.
Como sofro com o São Paulo.
Mas fico apreensivo.
Vislumbro o melhor passe.
Me ajeito num ataque perigoso.
Comemoro o gol.
Sofro com a possibilidade de não ganhar.
De não ter outro jogo.
De não ver a cidade parar de novo.
Os mercados cheios.
Os ônibus e metrôs animados.
As reuniões regadas à cerveja.
Os mini-feriados.
Os bolões.
O clima de Copa.
Do qual eu duvidei que teria esse ano.
E do qual eu gosto tanto.
Dane-se a FIFA.
Dane-se a CBF.
Eu torço pro Brasil mesmo.
Apesar da torcida deprimente.
Que vaia até hino adversário.
Não é essa que me importa.
Me importa a torcida próxima.
Que discute comigo.
Que torce comigo.
Que torce pro Brasil ganhar.
Não pra CBF ou a FIFA se darem bem.
Torce pra ter festa.
E pra ter uma nova reunião.
Usando a seleção como desculpa.
Vai Brasil!

quinta-feira, 26 de junho de 2014

De Zidane a Suárez



Quando o Zidane deu uma cabeçada no Materazzi, eu gostei.
Ele foi o maior jogador que eu pude ver jogar.
E nunca foi conhecido por ser um cara de cabeça boa.
Na Copa de 98, foi expulso logo no primeiro jogo.
Pegou dois jogos de suspensão.
Pra depois deitar e rolar contra o Brasil na final.
Ele é era um exemplo de craque de cabeça quente.
Francês de origem argelina, deve ter ouvido muita coisa na vida.
Dentro e fora dos campos.
É só ver a atual relação dos franceses com os imigrantes.
Mas virou um mito do futebol francês.
Estava na sua segunda final de Copa do Mundo.
E a Copa do Mundo mexe com a cabeça das pessoas
Torcedores e atletas.
Mais do que isso, aquela final era seu último jogo pela seleção.
Um dos últimos da sua carreira.
Já tinha feito um gol no jogo.
De pênalti.
De cavadinha.
Bateu na trave e no chão.
Devia estar cansadíssimo.
Física e mentalmente.
E aí veio o Materazzi.
Que nunca foi um exemplo de caráter.
Pelo menos é o que eu ouvia.
E falou alguma coisa que irritou o franco-argelino.
A cabeçada não deve ter doído muito.
Se fosse pra machucar, ele dava uma voadora na cabeça.
Um soco, uma cotovelada, sei lá.
Pra mim foi um desabafo.
Uma forma de mandar tudo à merda.
Tudo que o irritou a carreira inteira.
Um ato simbólico.
Que agrediu mais do que machucou.
Lembrei de tudo isso por causa do Suárez.
Guardadas as devidas proporções, claro.
Não é nem de longe da qualidade do Zidane.
E não era uma final de Copa.
Mas é bom jogador.
E o lance foi igualmente inusitado.
E foi contra um italiano.
Em primeiro lugar, o Suárez é uma figura curiosa.
Raçudo, artilheiro, briguento, catimbeiro.
É uma caricatura do jogador uruguaio.
Mas já tinha mordido um adversário por duas vezes.
E morder é uma coisa um tanto quando esquisita.
Muito mais brando do que uma cotovelada.
Um carrinho por trás, um soco.
Mas é muito mais agressivo.
Simbolicamente agressivo.
Mais do que isso, não é um comportamento esperado.
Dentro e fora do campo.
E foi um ato puramente instintivo.
São 34 câmeras em volta do campo.
E ele já havia sido punido duas vezes por morder.
Sabia que podia ser excluído da Copa.
E aos olhos do mundo todo, mordeu.
Se pensasse um pouco, não faria.
A não ser que não quisesse mais jogar.
Mas mordeu.
Dizem que o Chiellini também não é flor que se cheire.
Seria, por assim dizer, um novo Materazzi.
A mordida não deve ter sido gratuita.
Mas mordeu.
Sinceramente, não vejo tanto problema.
Acho até divertido.
Não acho que ele tenha sérios problemas mentais.
Nem acho que quem sai no tapa com alguém tenha menos.
Ou mais.
Como disse, gostei da cabeçada do Zidane.
Mas também não quero romantizar o Suárez.
No passado, ele foi acusado de racismo.
Nega até a morte.
Mas foi acusado, julgado e punido.
Com uma pena menor do que a da mordida.
Mas o esperar o que da FIFA?
De qualquer maneira, também não quero demonizá-lo.
Principalmente por algo que não posso garantir que ocorreu.
Herói ou vilão, tanto faz.
Mas a Copa ganhou um personagem.
Não ia jogar a Copa.
Jogou e destruiu a Inglaterra.
Depois mordeu.
A Copa fica sem um bom jogador.
Mas ganha um momento marcante.
Goste você ou não do Suárez.

domingo, 22 de junho de 2014

Duas rodadas, uma frase

Grupo A
O Brasil joga com as costas pesadas.
A Croácia tem futebol para ir adiante.
O México cumpre seu papel.
Camarões é um fiasco.
Grupo B
A Espanha acabou.
A Holanda vem forte.
O Chile é uma realidade.
A Austrália melhorou muito.
Grupo C
A Colômbia joga bonito.
A Grécia é um marasmo.
A Costa do Marfim é interessante.
O Japão estagnou.
Grupo D
O Uruguai é um turbilhão de emoções.
A Costa Rica é um fenômeno.
A Inglaterra fez o que sempre faz.
A Itália vai bem e vai mal.
Grupo E
A Suíça deve ao setor de imigração.
O Equador é aguerrido.
A França voa baixo.
Honduras não é bobo.
Grupo F
A Argentina tem Messi.
A Bósnia prometeu e não cumpriu.
O Irã não sabe fazer gols.
A Nigéria merece respeito.
Grupo G
A Alemanha se empolgou com a estréia.
Portugal só foi forte quando meio time era moçambicano.
Gana vacilou demais.
Os EUA ainda são alunos.
Grupo H
A Bélgica não é tudo isso.
A Argélia é uma grata surpresa.
A Rússia não fede nem cheira.
A Coréia do Sul não joga em casa.

A Copa é dos latino-americanos.
A Copa é das seleções menos badaladas.
A Copa está ótima!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Anti-poema

F
Fa
Fal
Fale
Fale M
Fale Ma
Fale Mai
Fale Mais
Reflita Mais
Reflita Menos
Fale Menos
Fale Meno
Fale Men
Fale Me
Fale M
Fale
Fal
Fa
F

terça-feira, 10 de junho de 2014

De junho a junho

Junho de 2013.
As ruas são tomadas.
O povo se manifesta.
Um fala que era pela passagem.
Outro fala que era contra a corrupção.
Outro, ainda, fala que era a Copa do Mundo.
O da passagem defende uma pauta.
Gosta de política.
Se declara de esquerda.
A prefeitura é de esquerda.
O governo estadual não.
Todos estão em Paris.
Um joga a batata pro outro.
A passagem é revogada.
A manifestação se expande.
O tiro sai pela culatra.
Entra em cena o que fala da corrupção.
Ele fala que não tem partido.
Mas fortalece determinado partido.
É o partido dos sem partido.
É a oposição.
O partido da prefeitura é o da presidência.
A presidência organizou a Copa.
A oposição quer melar a Copa.
Mas também tem gente de esquerda contra a Copa.
Contra a FIFA.
Contra o futebol moderno.
Contra a desigualdade social.
Contra a presidência?
A favor da oposição?
Eles não gostam da oposição.
Nem morrem de amores pela presidência.
São contra a Copa.
Não vai ter Copa.
Junho de 2014.
A Copa se aproxima.
Os movimentos sociais vão às ruas.
Os trabalhadores vão às ruas.
O circo começa a pegar fogo.
A oposição gosta.
A oposição quer o povo nas ruas.
A oposição quer greves.
Pra melar a Copa.
Visualiza um novo junho.
Pra melar a presidência.
Eis que vem a greve.
Dos metroviários.
A oposição governa o Estado.
Queria greve?
Teve greve.
Segura o rojão.
A presidência se preocupa.
A Copa tem que acontecer.
A greve atrapalha a presidência.
A greve atrapalha a oposição.
A greve atrapalha as empresas.
As empresas atrapalham o Estado.
As empresas atrapalham o trabalhador.
A greve atrapalha o trabalhador.
O metroviário é trabalhador.
Ele está de greve.
A greve ajuda o metroviário.
A população apóia.
A população é contra.
A população discute.
A Copa se aproxima.
A Copa precisa acontecer.
A presidência faz de tudo pra ela acontecer.
A polícia é chamada.
Programas sociais surgem.
Vai ter Copa.
O Ronaldo muda de lado.
Critica seu próprio trabalho.
Fala que a Copa é uma bagunça.
Vai comentar a Copa na Globo.
Vai fazer graça com o Galvão.
Ele cuida da carreira do Neymar.
Ele vai bajular o Neymar.
Todos vão bajular o Neymar.
O Neymar não usa metrô.
Eu uso metrô.
Eu quero ver o Neymar fazer gol.
Eu não gosto da FIFA.
Eu gosto de manifestações.
Eu vou ver a Copa.
Haja coração, amigo!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Greve sim, greve não, eis as regras



Engraçado.
Os professores ficaram mais de um mês em greve.
As universidades públicas estão há 10 dias paradas.
E ninguém ficou nem aí.
Minto.
Alguns se indignaram.
Quando os professores foram às ruas.
Fechando avenidas.
Parando o trânsito.
“Ferindo o direito de ir e vir das pessoas”.
Esse era o discurso.
Os alunos estão sem aulas?
Dane-se.
Não atrapalha ninguém.
Nem a economia.
Esse é o pensamento.
Ah, mas quando atrapalha...
Os ônibus ficaram dois dias em greve.
O metrô está também no segundo dia.
E parece que o mundo está acabando.
A mídia cobre como se fosse guerra.
A polícia já começou a colocar as manguinhas de fora.
O governo criminaliza a greve.
E a justiça endossa.
A justificativa é padrão.
“A greve prejudica os trabalhadores”.
Como se os metroviários não fossem trabalhadores.
Prejudicados normalmente.
Não em dias de greve.
Mas todos os dias.
A preocupação, claramente, não é a com a população.
Com a dificuldade que ela enfrenta em dias de greve.
Ônibus lotado tem todo dia.
Trânsito tem todo dia.
Metrô falhando tem todo dia.
Mas prejuízo financeiro não.
Pelo contrário.
Quanto mais cheio o ônibus.
Quanto menos ônibus na rua.
Mais lucro.
O metrô falha?
Acontece.
Mas quem está lá dentro já pagou.
Agora, experimenta paralisar por um dia.
Faça uma empresa perder dinheiro.
Atrapalhe os planos do governo.
Não sobra pedra sobre pedra.
A mídia, claro, ajuda.
Incita o repúdio à greve.
E muitas pessoas entram na onda.
Sentem-se profundamente prejudicadas.
Mas quando os professores pararam nem ligaram.
Inclusive apoiaram.
Uma vez que não foram incomodados diretamente.
“Tem que protestar mesmo”.
“Vamos melhorar a educação”.
“Fora Dilma!”.
Bastou incomodar, o discurso muda.
“Oportunistas”
“Quem sai perdendo é o trabalhador”.
“Também quero aumento de salário”.
“E o direito de ir e vir?”
O raciocínio é simples.
Não atrapalhou?
Apoiado.
Atrapalhou?
Sou contra.
As empresas são sempre contra.
O governo também.
Reconhecem o direito a greve.
Contanto que não atrapalhe.
Principalmente as que atrapalham mais.
Principalmente na época da Copa.
Assim, as greves agora têm regras.
Regras para minimizar o impacto das greves.
Pra que as greves não atrapalhem.
E pra que percam o sentido de serem greves.