Há
uma questão no caso da Petrobrás que, se não me admira seu encobrimento pela
mídia, me preocupa parecer passar despercebida pelos famigerados esquerdistas (grupo
no qual me incluo).
Não
acredito que todo esse escândalo tenha como objetivo único e exclusivo difamar
o PT e tirá-lo do poder, visto que, e aqui eu posso estar redondamente enganado
(e espero estar), o próprio PT está se encarregando desse trabalho com suas
alianças e nomeações ministeriais deprimentes.
Mas
será que é apenas pela minha cabeça que passa uma relação entre o caso da
Petrobrás e uma oportuna privatização da estatal?
Desculpem-me
se isso é o óbvio ululante, mas é que até agora acho que ouvi apenas uma vez
alguém ventilar essa possibilidade, obviamente no ambiente acadêmico.
De
qualquer maneira, tenho certeza que apesar de não ser veiculada pela mídia, essa
idéia é muito bem aceita por uma boa parcela da população, aquela mesma que
ganhou força durante as eleições com seu discurso conservador e supostamente
patriótico.
Aliás,
é curioso um patriota defender a venda do recurso energético mais importante do
seu país para estrangeiros, com o argumento de que com eles o petróleo seria
menor administrado e o Estado poderia se dedicar a coisas mais importantes,
como por exemplo facilitar a importação de produtos estrangeiros.
Não
importa que todos os países que eles admiram sejam donos dos seus próprios
recursos energéticos, inclusive no exterior, e que isso contribua para sua
riqueza.
Importa
menos ainda que um vizinho nosso, tido sempre como a escória do continente
sul-americano, tenha crescido robustamente, e que a nacionalização dos recursos
energéticos tenha sido parte importante do processo.
Pelo
contrário, escutam o oráculo dos países “desenvolvidos” que dizem que o Estado
precisa diminuir e que a privatização é a melhor opção para supri-lo, como se
esse tivesse sido o receituário deles para se desenvolver.
O
mais incrível é que aqui mesmo, no Brasil, as experiências de privatização dão
alguns exemplos do que significam.
Ou
não são eles os primeiros a reclamarem do sinal da Vivo, da internet da Tim, do
atendimento da Net?
Mesmo
assim, abertamente a Petrobrás é escurraçada para alguém dar a brilhante solução
da privatização.
O
argumento é que empresa estatal é sinônimo de corrupção e de gasto
desnecessário de dinheiro público.
Qualquer semelhança com o caso da USP não é mera coincidência.
A
idéia fixa de que o Estado forte é ruim e de que o controle de tudo deve ser
privado prevalece.
Dizem
que o socialismo encabeçado por um Estado forte e planejador é utópico, pois
suas propostas de igualdade e justiça social não existem na realidade.
Gostaria
que pensassem também na possibilidade de que uma livre concorrência que leva à
igualdade de oportunidades é igualmente fictícia.
Que
enquanto tal, foi uma narrativa criada por indivíduos que, de largada, já
estavam à frente dos seus concorrentes para o que se propunham.
Sei
que não adianta muito falar.
Mas
não acreditem nas sugestões dos que tem a ganhar com uma das possibilidades.
Certamente
alguns ganharão com uma possível privatização da Petrobrás.
Certamente não seremos nós.