segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O silêncio e a Petrobrás














Há uma questão no caso da Petrobrás que, se não me admira seu encobrimento pela mídia, me preocupa parecer passar despercebida pelos famigerados esquerdistas (grupo no qual me incluo).

Não acredito que todo esse escândalo tenha como objetivo único e exclusivo difamar o PT e tirá-lo do poder, visto que, e aqui eu posso estar redondamente enganado (e espero estar), o próprio PT está se encarregando desse trabalho com suas alianças e nomeações ministeriais deprimentes.

Mas será que é apenas pela minha cabeça que passa uma relação entre o caso da Petrobrás e uma oportuna privatização da estatal?

Desculpem-me se isso é o óbvio ululante, mas é que até agora acho que ouvi apenas uma vez alguém ventilar essa possibilidade, obviamente no ambiente acadêmico.

De qualquer maneira, tenho certeza que apesar de não ser veiculada pela mídia, essa idéia é muito bem aceita por uma boa parcela da população, aquela mesma que ganhou força durante as eleições com seu discurso conservador e supostamente patriótico.

Aliás, é curioso um patriota defender a venda do recurso energético mais importante do seu país para estrangeiros, com o argumento de que com eles o petróleo seria menor administrado e o Estado poderia se dedicar a coisas mais importantes, como por exemplo facilitar a importação de produtos estrangeiros.

Não importa que todos os países que eles admiram sejam donos dos seus próprios recursos energéticos, inclusive no exterior, e que isso contribua para sua riqueza.

Importa menos ainda que um vizinho nosso, tido sempre como a escória do continente sul-americano, tenha crescido robustamente, e que a nacionalização dos recursos energéticos tenha sido parte importante do processo.

Pelo contrário, escutam o oráculo dos países “desenvolvidos” que dizem que o Estado precisa diminuir e que a privatização é a melhor opção para supri-lo, como se esse tivesse sido o receituário deles para se desenvolver.

O mais incrível é que aqui mesmo, no Brasil, as experiências de privatização dão alguns exemplos do que significam.

Ou não são eles os primeiros a reclamarem do sinal da Vivo, da internet da Tim, do atendimento da Net?

Mesmo assim, abertamente a Petrobrás é escurraçada para alguém dar a brilhante solução da privatização.

O argumento é que empresa estatal é sinônimo de corrupção e de gasto desnecessário de dinheiro público.

Qualquer semelhança com o caso da USP não é mera coincidência.

A idéia fixa de que o Estado forte é ruim e de que o controle de tudo deve ser privado prevalece.

Dizem que o socialismo encabeçado por um Estado forte e planejador é utópico, pois suas propostas de igualdade e justiça social não existem na realidade.

Gostaria que pensassem também na possibilidade de que uma livre concorrência que leva à igualdade de oportunidades é igualmente fictícia.

Que enquanto tal, foi uma narrativa criada por indivíduos que, de largada, já estavam à frente dos seus concorrentes para o que se propunham.

Sei que não adianta muito falar.

Mas não acreditem nas sugestões dos que tem a ganhar com uma das possibilidades.

Certamente alguns ganharão com uma possível privatização da Petrobrás.


Certamente não seremos nós.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O império contra-ataca




















As manifestações de junho do ano passado foram um exemplo muito didático do movimento de contra-ataque que se projeta no atual cenário político não apenas brasileiro, mas mundial.

Em termos futebolísticos, o contra-ataque é o movimento em que, após receber uma forte investida do adversário, determinado time constrói uma jogada rapidamente, visando se aproveitar de uma defesa desguarnecida pelo esforço empreendido em atacar.

Após armar um grande ataque contra o aumento da passagem, o desfecho violento das manifestações de 2013 desarrumou a defesa de seus executores, e rapidamente a mídia e o governo construíram um contra-ataque que contagiou o país.

De lá pra cá, o jogo ficou aberto.

Os dois times passaram a se atacar mutua e cegamente, e os torcedores se exaltaram a tal ponto que qualquer que fosse o vencedor nas últimas eleições haveria briga do lado de fora do estádio.

Mesmo que até agora pontuais, começam a despontar preocupantes pedidos de impeachment e de retorno aos tempos do militarismo no Brasil, em resposta a uma suposta ameaça comunista que deve estar fazendo Marx se revirar no túmulo.

Depois de 12 anos no poder, a esquerda brasileira (eu ainda insisto que o PT representa um tipo de esquerda) teve a vitória mais apertada nas eleições, mas esse movimento de contra-ataque não parece se restringir ao nosso país.

Após um governo internacionalmente reconhecido, a esquerda uruguaia representada por Mujica não teve vida fácil nas eleições, e mesmo que volte a ganhar no segundo turno não será uma vitória muito folgada - e pelo que entendi, será menos radical.

Evo Morales, mesmo com a vitória fácil na Bolívia está longe de ser unanimidade, assim como a Venezuela enfrenta uma grave crise interna e a Argentina luta eternamente contra seu conservadorismo – sem falar no Chile.

Após um grande levante esquerdista na América do Sul na última década, a águia mostra suas garras novamente, preocupada também com outro levante mais amplo contra seus domínios.

Flertando, não tão claramente como parece, com a esquerda, China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul têm se reunido para criar um novo arranjo para o Terceiro Mundo, gerando expectativas sobre o futuro da periferia mundial.

Mas esses movimentos de ascensão da esquerda sul-americana (ainda que agora em declínio) e de avanço dos BRICS não são ao acaso.

Ao que parece, esses levantes da periferia acontecem em momentos de crise do império, e pelo menos até agora a História mostra que o contra-ataque é sempre fulminante.

Dando nome aos bois, nos Estados Unidos a caça aos árabes, negros e latinos é cada vez mais violenta, ao mesmo tempo em que na sua parceira União Européia a ultra-direita vai ganhando um apoio de deixar qualquer um ressabiado e o conservadorismo latino-americano toma corpo.

Circulam boatos, inclusive, de que os EUA e a UE têm conversado visando à formação de um novo bloco econômico, como resposta aos recentes esforços dos ousados países citados nesse texto para construir uma nova ordem mundial.

Ao que tudo indica, o império contra-ataca.


Que a força esteja conosco!