Não faltam argumentos
anti-Copa.
As obras milionárias.
E insuficientes.
Os elefantes-brancos.
Estádios e hospitais.
O caos no trânsito.
Desvio de dinheiro.
Imposições da FIFA.
Dentro disso tudo,
qual seria o legado da Copa?
Tenho uma impressão.
A Copa já deixou um
legado.
Antes mesmo de
começar.
Ela despertou o
Brasil.
O gigante adormecido.
Não o gigante econômico.
Da frieza dos números.
O gigante da
truculência.
Do preconceito.
Da violência.
O Brasil latente.
Perdão.
De latente não tinha
nada.
Era bem real.
O mundo que não via.
E o próprio Brasil
tentava não ver.
Mas aflorou tanto que
apareceu.
Começou na Copa das
Confederações.
A Copa das Manifestações.
A Copa colocou o
Brasil na vitrine.
E resolvemos nos
mostrar.
A polícia bateu.
Proibiram entrar no
shopping.
Amarraram no poste.
Arrastaram pela rua.
Pediram a volta dos
militares.
Estupraram e justificaram.
Na ânsia de construir
um novo Brasil para a Copa.
Nos deparamos com um antigo
muito bem construído.
Através da caça ao índio.
Da pilhagem colonial.
Da escravidão.
Da dívida externa.
Da ditadura.
A Copa é só mais um
passo.
Mais uma sujeição ao
exterior.
Como todas as outras.
Mas que, pela
visibilidade, potencializou o Brasil.
Não pro mundo.
Pra nós mesmos.
Espero que sirva pra
alguma coisa.
Já que mexeu nas
feridas.
Já que fez jorrar o
sangue.
Que ajude a fazer o
curativo.
A Copa chegou.
E esse é o seu legado.