Alguns
pontos das bananas e macacos me incomodam.
O
primeiro de todos é a orquestração por uma agência de publicidade.
O
mais genial, o mais louvável dessa história toda era, pra mim, a espontaneidade
e a ironia do Daniel Alves em comer a banana, bem mais do que a foto do Neymar
com a banana e tudo que veio em seguida.
Mas
parece que não foi bem assim.
Pelo
que tenho lido, não foi apenas a campanha do Neymar que foi “rapidamente”
pensada pela agência de publicidade, mas a própria idéia de comer a banana já
estava planejada há algum tempo.
A agência de publicidade aparentemente envolvida não é uma agência
pequena (fiz uma rápida busca na internet pra verificar), e não entraria na
brincadeira simplesmente pra combater o racismo ou aparecer na mídia.
Sendo
uma grande empresa, seria natural a existência de uma boa trama financeira no
projeto (que incluiria, por exemplo, uma linha instantânea de camisetas), e não me espantaria se
outras implicações e interesses mais obscuros estivessem no pacote.
Viajando
nas minhas suposições, e de acordo com o que foi dito até aqui, também não
seria um absurdo imaginar que mesmo o lançamento da banana no gramado fez parte
do projeto, sendo executado por alguém indicado para tal – o que seria, sem
dúvida, um absurdo.
De
qualquer maneira, também não sou da opinião de que toda essa comoção só seria
válida se a banana tivesse sido comida espontaneamente.
Seria,
realmente, um ato mais poderoso e sincero de resistência ao racismo, mas também
é possível planejar uma resistência.
Greves
e manifestações, por exemplo, geralmente são planejadas.
O
que incomoda não é o planejamento, mas a forma com que se planejou a crítica ao
racismo.
Nada
contra os macacos, mas a palavra tem um poder simbólico muito grande, e o planejamento
dá a possibilidade de se pensar e utilizar na campanha um termo que não trate
os negros da maneira pejorativa com que sempre foram tratados por aqui.
Obviamente
a moda de se jogar bananas nos estádios da Europa é uma maneira clara de chamar
os negros de macacos, mas internalizar a ofensa não é, penso eu, a melhor forma
de combatê-la.
Aliás,
muito me espanta essa reação generalizada contra o racismo sofrido por brasileiros
na Europa, como se aqui no Brasil tivéssemos resolvido muito bem nossas
questões raciais.
Pela
quantidade de pessoas que se manifestam com a banana na mão, vai ser difícil
explicar pros gringos durante a Copa por que os negros são maioria nas periferias
e prisões da nossa sociedade tão igualitária e solidária.
Vai
ser difícil explicar também porque eles, os gringos da Copa, que virão passar apenas
um mês de esbórnia em nossas terras, serão tão melhor tratados do que os
haitianos, bolivianos, africanos, e tantos outros, responsáveis por fazer o
trabalho pesado e barato que ninguém quer fazer e critica quem faz.
Nós
sabemos a explicação.
O
mundo não pode saber.
Em
época de Copa do Mundo e Olimpíadas, não podemos mostrar ao mundo um país tão
ou mais racista do que os acusados europeus.
Por
isso, somos todos macacos.
Temos
várias fotos com bananas, um slogan fácil de decorar e celebridades apoiando
por todo o mundo.
A
publicidade cria, agora, a imagem de um Brasil sem preconceito.
A
imagem de um Brasil que combate o preconceito.
Que
come a banana.
Lá fora.
Lá fora.
O
ato foi genial.
Mas há, por trás dele, mais coisas do que pode supor nossa vã filosofia.