quinta-feira, 31 de julho de 2014

A vírgula




















A vírgula é importante.
A vírgula, pode não parecer, mas é importante.
A vírgula pode não aparecer, mas é importante.
A vírgula pode, mas pouco aparece.
Mas não deixa de ser importante.
Mas não, ela deixou de ser importante.
Deixou de ser, pois a usam de qualquer jeito.
Colocam-na sem critérios.
E uma vírgula mal colocada atrapalha.
E uma, vírgula mal, colocada atrapalha.
A vírgula permite pausas.
Permite respirar.
E como precisamos respirar.
Precisamos, e como.
A vírgula permite enumerar.
Permite enumerar, listar, sequenciar, enfim.
Permite desenvolver um raciocínio.
Permite falar isso, mais aquilo, sem falar naquele outro.
O ponto final, por exemplo, acaba com tudo.
A exclamação também, mas de forma mais entusiasmada.
A interrogação, pelo menos, exige uma resposta.
Mas a vírgula permite que tudo se desenrole.
Que você leia, pense um pouco, e volte a ler.
A vírgula, pois, é importante, vejam vocês.
Mas ainda há quem ache que não.
Que é só frescura.
Que pausar, listar, e explicar, é pura frescura. 
Frescura uma vírgula!

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Sobre o PT

O PT não é, hoje, um partido radical.

Posso estar enganado.

Não acompanhei, por causa da idade, a caminhada do PT desde o começo, mas ouço de diversos lados que a posição adotada a partir da eleição do Lula foi uma espécie de traição aos esquerdistas que levantaram a bandeira durante toda a trajetória.

Pode ser que essa política conciliatória que tem sido feita, principal alvo de críticas da esquerda, seja a parte inicial de um projeto.

Pode ser que negociar com bancos e empresas seja uma tarefa necessária na transição de 500 anos de sujeição irrestrita ao capitalismo internacional, e de privilégios somente à elite, em direção a um governo mais abrangente a toda a população.

Pode ser, inclusive, com a permissão de citar o Mandela, que seja impossível um partido entrar no poder com o mesmo radicalismo de quando era oposição.

Mas é inegável que, mesmo sendo pouco radical, o PT equilibrou melhor as coisas.

Ele não mostra, pelo menos por enquanto, querer um Estado totalitário como dizem (e como o sufocamento dos protestos faz parecer), mas um Estado um pouco mais forte e atuante, ao invés de uma marionete dos empresários e do capitalismo internacional.

Ele não deixou de fazer as vontades da elite, mas pela primeira vez desde a colonização alguém no poder resolveu olhar para a grande fatia da população economicamente explorada e esquecida.

Não virou um inimigo declarado dos Estados Unidos e da Europa, mas considerou a possibilidade de abrir novas relações igualmente fortes, como os BRICS, o Mercosul e a Unasul.

Decididamente, não é radical.

Tampouco conservador.

Seria, me arrisco a dizer, um meio termo.

Só não sei se meio termo é o que o Brasil precisa hoje.

Concordo que é necessário tempo para mudanças, e defendo uma transição gradual para tal, de maneira que 12 anos de PT no poder é muito pouco quando relacionado a 500 anos de conservadorismo.

Que, pelo andar da carruagem, a eleição ficará entre PT e PSDB, e a volta do PSDB simboliza um retrocesso no movimento, ainda que eu tenha pra mim que os anos de PT no poder tenham servido pra mostrar aos tucanos um caminho sem volta na política brasileira.

Gosto das mudanças mais profundas, e pouco populares, que o Haddad parece tentar implantar em São Paulo hoje em dia, e talvez por isso essa opção ainda esteja com o PT.

Mas não gosto da maneira cega com que os petistas levam o debate ultimamente, como se o PT fosse livre de críticas e uma mudança radical para a sociedade brasileira, coisa que não tem sido desde que chegou ao poder.

Repito, ele tem mexido em assuntos e elegido prioridades que realmente nunca estiveram no centro das atenções políticas do Brasil, mas daí a achar que é radical, e a única forma possível de governar, vai uma grande distância.

Não gosto de radicalismos, mas acho que é hora de desequilibrar esse meio termo e inverter um pouco a ordem que as coisas tem tido no Brasil nos últimos séculos.


Não vejo isso no PT a curto prazo.

Mas prefiro dar mais tempo a ele do que arriscar voltar ao que nunca funcionou.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A terceira margem do rio é válida?

Não é a primeira vez que toco no assunto por aqui, mas acho que ele é um assunto importante e recorrente, por isso a insistência.

Pensando nos principais assuntos dos últimos dias, e tentando achar um ponto comum entre eles, é possível dizer que a principal convergência é a criação de uma atmosfera polarizada nas mídias e nas redes sociais.

A guerra entre Israel e Palestina, as versões do acidente na Ucrânia e as eleições de outubro aqui no Brasil fazem parecer que não há espaços para ponderações – ou se defende um lado, ou outro.

Com a morte do Ariano Suassuna, circulou um texto escrito por ele sobre “esquerda e direita”, e por mais que eu me esforce em pensar que os representantes de cada um são cada vez mais complexos, é impensável afirmar que não existam mais.

Me assusta um pouco o fato dessas polarizações generalizadas acontecerem em períodos de conflito, como a ditadura militar no Brasil e as diversas situações de que guerra que ouvi falar, onde se situar no meio do caminho equivale a ser recriminado por todos.

A possibilidade de um discurso híbrido, que abarque ambas as extremidades em uma solução comum, sempre me pareceu atraente, e foi o que sempre tentei buscar, mas há alguns meses atrás em uma aula escutei que a principal característica do híbrido, pensando na biologia, é a esterilidade.

Ou seja, levando pro plano intelectual, ou ideológico, a hibridização leva à estagnação criativa.

Mas se o discurso híbrido paralisa a criatividade, a prevalência de um discurso único é igualmente paralisante.

E aí fico numa encruzilhada.

Ao levantar uma bandeira indiscriminadamente, quebra-se a possibilidade da esterilidade, mas geralmente leva ao ódio e à esperança de seu discurso ser vencedor e dominante.

Fico aterrorizado com a ideia de Israel, dos Estados Unidos e da direita saírem vencedores dos atuais embates, e do que poderia vir a seguir com o aumento do poder para eles.

Da mesma maneira que um poder irrestrito para a Palestina, para a Rússia e para a esquerda cega me deixa ressabiado com o que pode acontecer.

Nos assuntos mencionados, me posiciono a favor dos últimos, mas por mais nervos que me dêem os argumentos contrários, tento pensar que infelizmente são necessários.

Confesso que tenho mania de ser o advogado do diabo, de sempre tentar ir na contramão dos argumento, pra enfim criar a terceira via.

Posicionar-se na terceira via é cada vez mais difícil nos dias de hoje.

É mais ou menos como a situação de quem tenta separar uma briga: apanha mais do que quem está batendo e não ganha nada com isso.

Mas tento acreditar, e aí é mesmo uma questão de fé, a mesma fé que move os defensores das extremidades, que acomodar os discursos é uma boa saída.

Não a saída final e redentora, mas a saída momentânea que, confrontada com outras acomodações, gera novos embates.

Estou convencido que embates são necessários para novos contornos.

A tal da destruição criativa.

Mas que sejam embates novos.

Velhos embates produzem pouca solução.


Tão ou menos do que o discurso híbrido.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Quando a mudança parece distante

As eleições vão se aproximando, e as pesquisas contrariam tudo que tenho escutado sobre as gestões de governo atuais.

Tanto no governo estadual quanto no federal, os candidatos que lideram as intenções de voto buscam a reeleição, mas aparentemente as pessoas não estão satisfeitas com o que está sendo feito.

Na presidência, o descontentamento com os programas sociais implementados pelo PT ao longo dos últimos mandatos, além dos famosos escândalos de corrupção, parecem desagradar uma porcentagem grande das pessoas que conheço, mas incrivelmente a presidenta Dilma Rousseff segue em primeiro nas pesquisas tanto no primeiro quanto no segundo turno.

Da mesma maneira, a truculência policial e a crise de abastecimento, frutos das mais de duas décadas de gestão do PSDB em São Paulo, geraram uma avalanche de críticas e indignações contra o governador Geraldo Alckmin, que mesmo assim lidera com folga a corrida eleitoral.

Essa polaridade entre PT e PSDB, que tenho a impressão de nunca ter visto tão acirrada, dá a impressão de que realmente os dois partidos são extremos opostos, levando essa disputa a uma reedição do socialismo x capitalismo, ou esquerda x direita, da época da ditadura militar.

Mas será que é isso mesmo?

Olhando para a corrida presidencial, encabeçada pelos dois partidos, é possível pensar que as diferenças não são assim tão grandes como se imagina.

A política de repressão e criminalização dos protestos vistas ultimamente não é apenas um procedimento do governo estadual de São Paulo, mas o próprio governo federal não mediu esforços em realizá-la.

Ainda falando do PT, seria muito ingênuo imaginar que o interesse por trás da construção de um porto em Cuba, através da Odebrecht, seja reforçar uma aliança comunista, e não uma forma de inserção na economia capitalista internacional.

As últimas declarações do presidenciável Aécio Neves, de que daria continuidade aos programas sociais como o Bolsa Família e o Mais Médicos, ainda que puramente eleitoreiras, mostra que o PSDB entendeu que não é mais possível governar sem levar em consideração uma grande parcela da população, no que o PT foi, sem dúvidas, o primeiro a se preocupar,

Uma grande divergência entre os dois candidatos, e que pra mim tem um peso muito grande na escolha, é em relação à política externa.

Enquanto o PT prioriza a continuação do diálogo com os países do Sul, como os BRICS (sem perder de vista que são relações capitalistas), o PSDB mira uma retomada de contato com os Estados Unidos e seus aliados, o que me inclina a preferir a primeira opção.

Mas se nas últimas eleições fui convicto em votar no PT, dessa vez não tenho nem de longe a mesma clareza.

Sou totalmente a favor dos programas sociais e da política externa que o partido propõe, sem contar a inédita atenção a uma população historicamente esquecida, mas a forma de repressão às manifestações e as manobras políticas para aliviar a barra de acusados me fazem pensar que, talvez, seja mais do mesmo.

Como sempre fui do contra, gostaria de pensar uma terceira opção, mas não me parece possível, pelo menos não nessa eleição.

A aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, que se propõe como a terceira via, não mostra nada mais do que esse discurso alternativo, além de eu não simpatizar com nenhum dos dois.

O tal pastor Everaldo, que está em quarto lugar, apesar de deixar claro a importância que os evangélicos tem no Brasil hoje em dia, me dá arrepios.

Por simpatia, fui dar uma olhada no programa da Luciana Genro, do PSOL, e apesar de ler ótimos posicionamentos perante algumas questões, a parte de propostas me pareceu muito teórica, sem deixar claro as ações a serem efetuadas.

Durante muito tempo votei nulo, e gosto da ideia do voto nulo como voto de protesto, mas por outro lado fica uma ponta de vergonha por se abster do debate.

Há algum tempo venho refletindo, e lendo algumas (poucas) coisas, sobre o esgotamento da democracia representativa, e a urgência de uma maior participação da sociedade civil, que admito não saber definir muito bem.

Não gosto da ideia da minha participação se limitar a votar, obrigatoriamente, em alguém não escolhido por mim pra concorrer, e que uma vez eleito, não irá me consultar pra mais nada.

Também não sei dizer quais os melhores mecanismos de participação, e nem os limites entre participação generalizada e caos, mas me parece uma alternativa à inquestionável democracia em que vivemos.

Infelizmente, pra essa eleição ainda teremos que escolher alguém pra nos representar (ou anular o voto), mas a consciência de que, na prática, não diferem tanto assim entre si, e de que existe um outro caminho para além da representação, já é um pequeno passo.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Desconstruindo Mandela

Quando o Mandela morreu, no final do ano passado, não cheguei a me surpreender com a comoção causada, pois o que mais eu admirava nele era a capacidade de ser respeitado por todos, em todos os lugares.

Por outro lado, sempre tive um pé atrás com unanimidades, e uma figura pública como Mandela, praticamente isolada de críticas, também me despertava curiosidade.

Foi quando, um pouco depois da sua morte, li um artigo que tentava argumentar que Mandela havia deixado um legado contraditório, já que após sua passagem pela presidência a estrutura social sul-africana não se transformou substancialmente.

Instigado pelo artigo, resolvi enviá-lo a amigos em Moçambique, que prontamente criticaram-no, dizendo que além de usar dados questionáveis, o artigo não levava em consideração que Mandela não conduzia sozinho o país, me fazendo refletir também que a mudança que a África do Sul buscava não podia ser alcançada a curto ou médio prazo.

De qualquer maneira, meus amigos disseram que o artigo valia pela tentativa de humanizar o Mandela, colocando-o mais próximo de nós, simples mortais, sujeitos a erros e acertos, e recomendaram a leitura de sua autobiografia, “Um longo caminho para a liberdade”.

Reconheci que sabia pouco sobre a “pessoa” Mandela e sua atuação política, e resolvi tirar minhas férias de fim de ano para ler o livro, um tijolo de 500 páginas grandes e com letras pequenas.

Logo de cara percebi que, diferente da sua imagem de pacifista, fruto da política de negociação com o regime do apartheid, Mandela durante toda a vida causou transtornos por onde passou, fato reconhecido por ele mesmo em vários momentos do livro.

Seja na família, na comunidade em que nasceu, na universidade, em seu trabalho como advogado ou na política, ele sempre foi um questionador, e diversas vezes teve problemas com isso.

Mais do que isso, foi um dos fundadores do Umkhonto we Sizwe, braço armado da ANC, ao perceber que o diálogo não funcionaria mais na luta que ele e seus companheiros empreendiam, e entrou na luta armada.

Fez inclusive treinamento militar na Etiópia, o que o levou a ser procurado mundialmente como terrorista, pelos mesmos que hoje em dia elevam sua imagem a de um semi-Deus.

Muitas vezes foi questionado pelos próprios companheiros, ao tomar decisões sozinho e ir no sentido contrário do que se planejava em conjunto, argumentando que, como um pastor de ovelhas, o verdadeiro líder deixava que o rebanho seguisse na frente, controlando de trás (uma analogia um tanto quanto polêmica).

Mas, para mim, a parte mais interessante do livro é quando Mandela assume que passou de um militante radical a um negociador, e dá sua explicação para tal.

Reconhece que, enquanto militante, o radicalismo é necessário, mas ao assumir a figura pública de governante, não pode mais agir como se estivesse na luta armada.

Como militante, ele representava um determinado grupo com determinados interesses, mas como presidente ele teria que representar toda a África do Sul, inclusive os brancos, e que por pior que fosse a desigualdade racial no país, era um dado real com o qual ele precisava lidar.

O presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, por exemplo, expropriou as terras de todos os brancos do país, e nem por isso a situação zimbabweana melhorou consideravelmente.

Em suma, Mandela foi o presidente que poderia ser.

Não transformou a vida dos sul-africanos em um paraíso, mas nenhum presidente em nenhum continente conseguiu fazê-lo.

Como dito no início, ele fazia parte de um grande projeto de seu partido, onde não trabalhava sozinho, e a transformação social na África do Sul exige muito mais do que um presidente bem intencionado.

Gostaria de saber melhor sobre o processo de seu enriquecimento, e gostaria muito que tivesse uma explicação razoável, já que enriquecer não significa necessariamente alinhamento a ações ilícitas.

Importante ressaltar, se ele enriqueceu por causa da política, nada mais justo para um homem que dedicou sua vida toda, ficando longe da família e de todas as pessoas próximas durante longos anos, a uma causa maior, independente se você concorda ou não.


Depois de tudo isso, da pequena imersão no personagem Mandela, a minha maior admiração continua sendo a mesma de antes: apesar do caminho tortuoso, ele adquiriu uma capacidade incrível de ser respeitado no mundo todo.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

MoçamBRICS


Passada a Copa, o tema que substitui o torneio em todos os veículos de imprensa é a reunião de cúpula dos BRICS essa semana, aqui no Brasil.

Não vou ficar aqui explicando quem são os BRICS, falar das diferenças econômicas, culturais e políticas entre eles, nem analisar seus indicadores sociais.

Não pretendo também dimensionar a importância desse diálogo entre Estados do Sul Global (e a Rússia?) para a ordem mundial, nem de seu papel como possível alternativa ao FMI e ao Banco Mundial.

Esses temas não param de ser discutidos tanto na grande mídia quanto na mídia independente, em reportagens, colunas e blogs, então acho que eu não acrescentaria nada de muito novo.

Minha intenção, como pesquisador da temática moçambicana, é tentar pensar o que a criação do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS pode significar para Moçambique nos próximos anos.

Ainda que esteja em fase bem inicial, com recursos limitados para o que se propõe, esse banco de investimento tem como objetivo financiar obras de infra-estrutura nos países do bloco.

Pelo que entendi, porém, a idéia é que com o tempo esses investimentos não fiquem restritos aos países formadores dos BRICS, mas sim sejam feitos em outros países considerados “em desenvolvimento”.

Um dos principais investimentos em infra-estruturas que esse tipo de banco pode fazer é no setor de transportes, já que um sistema de circulação bem estruturado é fundamental para as trocas internacionais, uma das principais formas de integração que existe entre os BRICS.

E aí entra Moçambique.

Moçambique é, historicamente, território de passagem entre o interior da África Austral e o resto do mundo, e uma boa parcela dos recursos econômicos moçambicanos provém do sistema de circulação: portos, aeroportos, ferrovias, estradas.

Só por esses motivos, o interesse dos BRICS em investir nas infra-estruturas de transporte em Moçambique já faria algum sentido.

Olhando mais de perto a situação, a possibilidade disso acontecer é maior ainda.

Tirando a Rússia, todos os outros Estados que compõe os BRICS estão diretamente relacionados com as infra-estrutras de transporte moçambicanas.

O Brasil, através da empresa Vale, é hoje responsável por alguns trechos ferroviários do centro de Moçambique, por conta do seu projeto de exploração de carvão mineral em Moatize, e da sua necessidade de escoá-lo até o porto da Beira.

Da mesma forma, a Índia por algum tempo foi responsável (não consegui apurar se ainda é) pela operação e reabilitação de algumas ferrovias também da região central moçambicana, através das empresas Rites e Ircon.

A China, com sua agressiva política de inserção no continente africano, mantém investimentos na construção e reabilitação de estradas por todo o país, visando facilitar o escoamento de suas exportações e sua exploração de minérios em toda a África, além de permitir também uma circulação de capital chinês.

Sem falar da África do Sul que, vizinha de Moçambique, é interligada a ele por ferrovias e estradas, através do Corredor de Maputo, tendo no porto da mesma cidade um interesse estratégico.

Dessa maneira, pelos objetivos iniciais do banco de desenvolvimento dos BRICS, e pelo envolvimento bem próximo de Moçambique com quase todos os países do bloco, não seria supreendente se o país começasse a receber investimentos em suas infra-estruturas de transporte.

Resta saber quais seriam as condições desses investimentos, já que com o último parceiro de reabilitação estrutural dos transportes em Moçambique, o Banco Mundial,  essas condições não pareceram muito salutares à economia do país.

A verdade é que, com o novo banco dos BRICS, o sistema de circulação de Moçambique tem tudo para ser alvo de investimentos nos próximos anos.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A Copa dos Extremos

Talvez seja a polarização política do Brasil hoje.
Em que ou se é uma coisa, ou outra.
Sem meio termo.
Talvez seja o Facebook.
E sua capacidade incrível de gerar opiniões.
Instantâneas.
Contundentes.
Foi a primeira Copa do Facebook.
Ok, em 2010 ele já existia.
Mas não era essa febre.
Ele foi o veículo da Copa.
Mais até do que a TV.
Que em muitas vezes foi esquecida.
Mesmo durante os jogos.
Pra ver o que o Facebook dizia.
E geralmente dizia os extremos.
É o melhor não sei o que de todos os tempos.
É o pior não sei que lá da história.
Eu sei que futebol é paixão.
Que, ao torcer, não se reflete muito.
É hora de gritar.
De xingar.
Amar, odiar.
Mas a Copa acabou.
E algumas ponderações se fazem necessárias.
Principalmente sobre os exageros.
Sobre os heróis e bandidos.
Os extremos da Copa.
A Alemanha foi campeã.
Parabéns.
Anos de treino.
De entrosamento.
Um belo trabalho.
Da seleção alemã.
Não confundir com o país.
Nada contra a Alemanha.
Mas se ganhar Copa fosse exemplo de sociedade saudável.
O Brasil não era penta.
O futebol alemão anda muito bem das pernas.
E a economia também.
É o que dizem pelo menos.
Mas sua política internacional não é bem um exemplo.
Os países da Zona do Euro que o digam.
Sem falar das farmacêuticas na Amazônia.
Então muito cuidado.
Temos muito o que aprender com eles, sim.
E muito o que criticar.
Não foi o governo, ou o povo alemão, que ganhou.
Foi a seleção.
Com todos os méritos.
A seleção brasileira também foi ruim.
Mas não é a pior da história.
Ganhou alguns jogos.
Uns mais fáceis, uns mais difíceis.
Chegou até a semi-final.
Depois foi um desastre, verdade.
Mas já fez campanhas piores.
Tinha bons jogadores.
Alguns muito bons, como o Neymar.
Outros nem tanto, como o Bernard.
Mas, no geral, eram bons.
Nada mais do que isso.
Perderam.
Como acontece com 31 times por Copa.
Em casa.
Como aconteceu com a Alemanha em 2006.
Isso, a grande Alemanha.
Responsável pelo único verdadeiro extremo da Copa.
Os 7 x 1.
Pior derrota da seleção brasileira na história.
Pior exibição.
Pior jogo.
Não pior Copa.
Nem tudo é extremo.
O Zuñiga, por exemplo.
Não é um santo.
Nem a personificação de Satã.
Entrou duro na jogada.
Possivelmente na maldade.
E tirou o Neymar da Copa.
Não é o maior mau-caráter da face da terra.
Não foi o primeiro lance assim no futebol.
Nem o último.
E nunca ninguém foi preso por isso.
Como muitos gostariam.
Mas foi no Neymar.
Por isso a proporção de tudo.
Criada por nós mesmos.
E pelo talento inegável dele.
O Zuñiga errou.
Mas não merece ser banido do esporte.
Nem um abraço fraternal do Neymar.
Sejamos justos.
Outro foi o Suárez.
Tido como um animal.
Um sociopata descontrolado.
FIFA nele!
A pior cena de todas as Copas.
Calma.
Realmente, foi estranho.
Não é um comportamento normal.
O juiz não viu?
Tira ele de um, ou dois jogos.
Não precisa transformá-lo num assassino.
Nem no herói nacional que virou no Uruguai.
Não somos os únicos a exagerar.
A Copa foi dos extremos em todos os sentidos.
Inclusive sobre ela mesma.
A Copa das Copas.
A melhor de todos os tempos.
Na organização e na bola.
Menos.
O governo negava.
Mas temia-se um desastre na organização.
Não foi.
Funcionou bem.
Não perfeitamente.
Afinal, nada é extremo.
Mas deu certo.
A mesma coisa no futebol.
No começo empolgou.
Muitos gols, vibração, alegria.
Bons jogos.
Mas ficou na primeira fase.
Depois, faltaram gols.
Sobraram empates.
Foi muito 0 x 0, 1 x 0, 1 x 1.
Muita disputa de pênaltis.
Que é legal.
Mas não todo jogo.
Fazendo um balanço.
Não foi a melhor Copa de todas.
Muito menos a pior.
Se é que existe essas coisas.
Mas a Copa foi ótima.
Como, alias, são todas.
Com uma diferença.
A expectativa dessa era enorme.
Principalmente aqui no Brasil.
E talvez por isso tanta empolgação.
Tanto exagero.
Tanta paixão.
Talvez por isso tenha sido a Copa dos Extremos.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Brasil, Alemanha e Argentina



O clima estava estranho.
Todos estavam meio resignados.
Já perdemos, muitos diziam.
Tentei ser confiante.
Analisar positivamente.
Apostar em alguns jogadores.
Cheguei a acreditar no que dizia.
Mas o clima seguia pesado.
Não era a mesma festa de antes.
O primeiro gol parecia esperado.
Mas mantive as esperanças.
Falhamos, acontece.
O segundo foi a ducha de água fria.
Aos poucos ainda quentes.
Como eu.
E de repente já estava cinco.
Não deu pra ficar triste.
Não deu pra ter raiva.
Não deu pra entender.
Fiquei meio atordoado.
Juro que pensava na virada.
No quão espetacular seria.
No intervalo, caí na real.
Comecei a rir do que acontecia.
Fazer piadas.
Não era de nervoso, não.
Ria pois entendia melhor.
Entendia que já tinha ido.
Que, afinal, era apenas um jogo.
Envergonhava um pouco, verdade.
Mas não era o fim dos tempos.
Gosto muito de Copa.
Gosto muito de futebol.
Não apenas como diversão.
Levo mesmo a sério.
Mas não acho que foi um castigo ao povo brasileiro.
Nem que a derrota em campo reflete nossa sociedade.
Foi, sim, uma boa lição.
Uma lição de como não gerir um projeto.
De como não lidar com as expectativas.
De como não planejar.
Diferente da Alemanha.
Que monta seu time há pelo menos oito anos.
Que jogou em 2010 pensando em 2014.
Indo, aliás, muito bem nas duas.
Sempre fui péssimo planejador.
Cumpro muito pouco com o que planejo.
E acabo fazendo as coisas na correria.
Mas tenho que admitir uma coisa.
As poucas coisas que faço com calma, paciência.
As coisas que mastigo por um tempo, reflito.
Me deixam mais satisfeito ao final.
Sendo assim, deveria torcer pra Alemanha.
Não pela babaquice do “planejamento versus jeitinho”.
Mas pela persistência.
E pela realização de um projeto.
Sinto informar, porém, que não será assim.
A Copa foi sensacional por um motivo.
Pela força dos latino-americanos.
Pelo bom futebol colombiano.
Pela raça uruguaia.
Pela tática chilena.
Pelo fenômeno Costa Rica.
Pela eficiência do Messi.
O campeão tem que vir daqui.
Mas não é só isso.
É hora dos europeus pararem de ganhar.
De serem os reis da cocada preta.
De serem os eternos exemplos a serem seguidos.
Já ganharam as últimas duas.
É hora de voltarmos a dar as cartas no futebol.
Mesmo que seja a Argentina.
Conheço poucos argentinos.
Mas gosto dos que conheço.
E admiro a postura dos argentinos.
De sempre acreditar e incentivar.
De sempre peitar as autoridades.
De sempre levar tudo com emoção.
Por isso tudo, estou com vocês, hermanos.
Mas, caso percam, me perdoem.
Futebol é futebol.
E a piada é inevitável.
O Facebook se encarregará.
Se ganharem, ótimo.
Se perderem, melhor ainda.
Só não me perguntem sobre o jogo de sábado.
Vou assistir por obrigação moral com o futebol.
Mas não há nada mais sem graça que essa idéia estúpida.
Disputa de 3º e 4º.
Deprimente.
Pior que isso, só tomar de 7.
Da Argentina.