quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A nova velha história












A goleada sobre o Danubio ontem foi irrepreensível.

Claro que, em alguns momentos, pareceu que os uruguaios podiam complicar um pouco, mas desde o começo o São Paulo foi senhor do jogo, e não cheguei a pensar que sairíamos do Morumbi sem a vitória.

O destaque do jogo, porém, nesse caso um destaque negativo, foi o público: 16.689 torcedores, o pior público do Morumbi na Libertadores em 23 anos, segundo o UOL.

Aceito o argumento de que a chuva do final da tarde esfriou um pouco os ânimos, mas acho que ela é, de longe, a menor culpada pelo esvaziamento do estádio.

Não tenho a menor dúvida de que o preço ridículo e a confusão para comprar os ingressos tenham sido os principais responsáveis pela ausência do torcedor, até porque foi exatamente por isso que não fui ao jogo.

Mas se tudo isso me irrita profundamente, infelizmente não vejo nenhuma novidade ou anormalidade na situação.

Freqüento o Morumbi desde o início da década de 90, e nunca, mas nunca mesmo, foi tarefa fácil comprar ingresso.

Seja em final de Libertadores, seja na fase de grupos do Paulista, a compra de ingressos geralmente exigia artimanhas e muita paciência.

Nesses 25 anos de Morumbi, nunca consegui ver uma fila de bilheteria que funcionasse sem que os cambistas passassem na minha frente 30 vezes impunes, e sem que o maldito cadastro da empresa responsável pela venda não tomasse 15 minutos de cada comprador.

Lembro-me, inclusive, das piadinhas de estádio com a empresa denominada Ingresso Fácil.

Em jogos decisivos, então, a melhor solução para conseguir um ingresso era dar um drible no trabalho pra ir a um ponto de venda no meio da semana à tarde, porque senão ficava sem ingresso mesmo.

A única fase em que realmente consegui comprar meus ingressos sem problema algum foi nos últimos 2 anos, quando por 10 reais foi possível comprá-los pela internet com o cartão de crédito.

De qualquer maneira, e apesar do preço justo e acessível, esse tipo de compra não resolve os problemas, pois é destinada a um pequeno setor do estádio e restrita aos que possuem cartão de crédito.

O preço alto dos ingressos é, também, uma nova velha história.

Lembro dessa discussão na Libertadores de 2005, quando na fase final o São Paulo subiu bem o preço dos ingressos e deixou fora desses jogos a torcida que apoiou o time no início do torneio.

Até concordo que pela procura, o preço do ingresso para Libertadores deva ser diferente, mas 120 reais é algo fora da realidade.

A solução é virar sócio-torcedor às pressas, mas pelo que li sobre ontem, nem eles conseguiram seu ingresso facilmente.

Posso parecer ingênuo, mas será que é tão difícil assim vender ingressos?

Será que em 25 anos não seria possível criar uma forma de facilitar, pouco que seja, a ida de torcedores ao estádio?

Marx dizia que a história se repete, primeiro como tragédia e depois como farsa.


Tenho a impressão de que estamos na segunda fase.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O tiki-taka e a aceleração contemporânea











Sou daqueles que acredita que o futebol, dentro de campo, é um pouco espelho da sociedade em que se insere.

Não estou dizendo com isso que os jogadores brasileiros são naturalmente mais malandros, e os europeus mais durões, o que é verdade apenas em parte.

O ponto onde quero chegar é que a forma de se jogar o jogo é inspirada no espírito da época - o tal do zeitgeist.

Assim, a “revolução futebolística” do carrossel holandês da década de 70, dos jogadores sem posição e independentes, refletia um pouco a juventude de um período de criatividade e liberdade, não apenas na Holanda mas em todo o mundo.

Mais ou menos nessa linha, toda a história do futebol soviético, enquanto existiu, tinha aquele ar de futebol coletivo e operário, pragmático, onde não existiam astros e individualidades, e que de certa forma incomodava o resto do mundo.

Não vou nem falar da Democracia Corintiana da década de 80 pra não encher a bola deles – mas fica a menção.

A seleção espanhola já não assusta mais como nos últimos anos, mas o conceito do tiki-taka invadiu o mundo, clamando por um futebol rápido e com trocas de passes à exaustão, onde não se pode mais segurar a bola, apenas passá-la.

Minha intenção não é argumentar que esse futebol é feio e não funciona, porque a Alemanha foi campeã do mundo ano passado jogando assim, e de vez em quando surgem bons jogos nesse estilo, como o jogo da própria Alemanha contra a Argélia na Copa passada.

Mas essa idéia de futebol acelerado, com a bola circulando sem parar, só poderia ter sido criada no período atual, onde tudo (de bom e de ruim) acontece com uma velocidade frenética, e onde é mais importante colocar as coisas em movimento do que entendê-las.

O futebol do tiki-taka não perdoa os lentos, os que pensam devagar e os que não são fisicamente exemplares.

Jogar bem, hoje, é jogar rápido.

Alguma semelhança com nossa sociedade contemporânea?

Sinceramente, e apesar de não ter vivenciado a época, gosto de ver as jogadas do futebol dos anos 80, bem mais lento do que o nosso, mas que parecia encantar mais.

Acho incrível, por outro lado, a capacidade de resistência de um jogador como o Danilo, que mesmo com essa obsessão pelo futebol rápido consegue, a passos lentos, ditar o ritmo dos jogos e ser decisivo em todo lugar que passou.

É claro que gosto de ver um contra-ataque veloz, ou um golaço numa troca de passes rápida, mas no geral prefiro ver um jogo cadenciado, mais tranqüilo, do que passar o jogo inteiro sem conseguir respirar ou tomar um gole de cerveja.

Espero, de coração, que essa moda do futebol frenético seja passageira.

Que seja rápida que nem seu conceito.

Porque de frenético já basta o cotidiano.


O futebol não merece isso.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Lugano não aprovaria
















O problema da derrota não foi o resultado.

Perder um clássico na casa do adversário, com casa cheia, na primeira rodada da Libertadores, não é pra ser considerado um desastre.

É um resultado normal, que se poderia esperar.

Mas não gostei do que vi.

Vi um Corinthians babando no começo do jogo, até fazer um a zero num golaço, e sem perder essa pegada mesmo quando ficou mais preso na defesa (muito bem organizada, aliás), esperando um contra-ataque.

Vi um São Paulo perdendo muitas divididas e rebatidas, e que quando dominou um pouco o jogo ficou trocando passes na intermediária sem entrar na área.

Essa não é a atitude que eu espero em um jogo da Libertadores, seja contra o Corinthians seja contra o Deportivo Táchira.

Não dá pra, perdendo o jogo, ficar cozinhando e esperar um passe de gênio que desmonte uma defesa difícil de penetrar.

No final da transmissão da Globo foi colocada uma informação de que o São Paulo trocou quase o dobro de passes do que o Corinthians, algo como 350 a 180.

Compramos a nóia européia de trocar passes à exaustão, a última moda, mas esquecemos de dar utilidade a eles.

O Corinthians já gosta de administrar resultado, com o adversário sem pressionar então...

Mas como eu disse, ao contrário de uns anos atrás, eles agora ficam na espreita do contra-ataque pra matar o jogo.

E mataram.

Qualquer um sabe que foi falta do Sheik no Bruno, e que isso atrapalhou qualquer chance de reação do São Paulo – mas será que tínhamos?

Particularmente não gostei da escalação do Muricy, e pelo visto vários são-paulinos também não, mas não sou técnico e não acompanho o dia-a-dia dos jogadores, apesar de achar que já era hora de ter pelo menos um esquema definido.

Como torcedor, e sem Pato e Centurión, preferia nosso vitorioso (e ultrapassado?) 3-5-2, com o Michel Bastos na ala e sem o Maicon (que não acho tão ruim como dizem), mas é puro pitaco irracional.

De qualquer maneira, não vi com bons olhos a atitude do time em um jogo esperado há tanto tempo, e fico preocupado com a possibilidade dessa “nhaca” continuar nos outros jogos.

Dá pra classificar e dá pra ganhar do Corinthians na última rodada.

Sem dúvidas.

Mas tem que encarar com mais vontade.

Não é assim que se ganha a Libertadores.


Lugano deve estar puto.