Convencionou-se
a chamar o futebol de hoje, até pejorativamente, de futebol moderno.
Chuteiras
coloridas, cabelos engomados, arenas multi-uso, tratamento empresarial dos
clubes, falta de amor à camisa.
Seriam
esses os elementos que definem o tal futebol moderno?
Confesso
que adoro usar o termo pra depreciar o que vem acontecendo com o futebol,
talvez uma forma de expressar uma nostalgia do tempo que eu era mais novo e o
futebol parecia mais apaixonante, mas o que tanto diferencia esse futebol de
hoje do de “antigamente”?
Essa
pergunta é capciosa, pois é difícil enxergar até onde vai esse antigamente, ou
seja, quando foi que o futebol que nós tanto amamos se tornou essa máquina de
fazer dinheiro?
A
aparição dos patrocínios nas camisas de futebol, talvez um dos marcos da “marketingzação”
do futebol, se deu ao que me consta lá pela década de 70, momento que
consideramos o auge do futebol-paixão, bem distante do que vemos hoje.
A
contratação dos nossos jogadores por times europeus, principal reclamação dos
defensores do futebol do Terceiro Mundo, salvo engano tem suas raízes lá pela
década de 40, quando o futebol nem era ainda o orgulho do Brasil.
A
febre de assistir futebol pela televisão, que pra mim é um dos motivos (mas não
o único) do esvaziamento dos estádios, teve um boom aqui no Brasil na década de
80, uma das décadas mais aclamadas pelos apreciadores do futebol que encanta as
pessoas.
Quando
eu comecei a acompanhar futebol, na década de 90, já estava a todo vapor a
modernização do futebol como conhecemos hoje.
Lembro
de comprar “cards” do futebol italiano nas bancas de jornal, muito antes do
bombardeio de campeonatos europeus na televisão, que hoje, infelizmente, as crianças
acompanham muito mais do que o nosso futebol nacional.
A
transformação do futebol em mercadoria vem se dando lentamente, há muito tempo,
inclusive durante nossos períodos preferidos do esporte, e não é um produto
exclusivo dos nossos tempos.
O
problema é que, hoje, talvez o futebol tenha se tornado só isso.
Não
sei se o futebol conseguiria se manter hoje sem essa modernização.
Claro,
o futebol da várzea, das escolas, das quadrinhas, esse nunca vai morrer, pois
nele somos atores principais e não precisamos de muita firula pra reproduzir.
Mas
pra quem gosta de acompanhar seu time nos estádios, ter ídolos, enfim, encarar
o futebol como algo mais do que um mero produto do entretenimento, a coisa fica
mais difícil.
Acho
que funciona como uma bola de neve.
Em
cada momento de crise que o futebol atravessou, foram criadas soluções que o
tornaram cada vez mais dependente da espetacularização, e parece que o caminho
é sem volta.
Cada
passo de modernização coloca mais uma pá de terra no futebol que eu idealizo.
Pode
ser que esse processo tenha um limite.
Pode
ser que o processo fique insuportável e o futebol precise retomar suas origens
para não desaparecer.
Mas
pode ser que ele se repita infinitamente.
Pode
ser que sempre exista uma solução inovadora que acelere mais ainda a roda, sem
que ele se espatife de vez.
De
qualquer maneira, continuarei condenando o processo.
Um
processo longo que torna difícil identificar quando o futebol se tornou
moderno.
E
que, apesar de continuar acompanhando, não me agrada.
Não
ao futebol moderno.
Antes
que definam o que ele é.
E
que acabem com o pouco que restou.