quarta-feira, 11 de março de 2015

O tal futebol moderno














Convencionou-se a chamar o futebol de hoje, até pejorativamente, de futebol moderno.

Chuteiras coloridas, cabelos engomados, arenas multi-uso, tratamento empresarial dos clubes, falta de amor à camisa.

Seriam esses os elementos que definem o tal futebol moderno?

Confesso que adoro usar o termo pra depreciar o que vem acontecendo com o futebol, talvez uma forma de expressar uma nostalgia do tempo que eu era mais novo e o futebol parecia mais apaixonante, mas o que tanto diferencia esse futebol de hoje do de “antigamente”?

Essa pergunta é capciosa, pois é difícil enxergar até onde vai esse antigamente, ou seja, quando foi que o futebol que nós tanto amamos se tornou essa máquina de fazer dinheiro?

A aparição dos patrocínios nas camisas de futebol, talvez um dos marcos da “marketingzação” do futebol, se deu ao que me consta lá pela década de 70, momento que consideramos o auge do futebol-paixão, bem distante do que vemos hoje.

A contratação dos nossos jogadores por times europeus, principal reclamação dos defensores do futebol do Terceiro Mundo, salvo engano tem suas raízes lá pela década de 40, quando o futebol nem era ainda o orgulho do Brasil.

A febre de assistir futebol pela televisão, que pra mim é um dos motivos (mas não o único) do esvaziamento dos estádios, teve um boom aqui no Brasil na década de 80, uma das décadas mais aclamadas pelos apreciadores do futebol que encanta as pessoas.

Quando eu comecei a acompanhar futebol, na década de 90, já estava a todo vapor a modernização do futebol como conhecemos hoje.

Lembro de comprar “cards” do futebol italiano nas bancas de jornal, muito antes do bombardeio de campeonatos europeus na televisão, que hoje, infelizmente, as crianças acompanham muito mais do que o nosso futebol nacional.

A transformação do futebol em mercadoria vem se dando lentamente, há muito tempo, inclusive durante nossos períodos preferidos do esporte, e não é um produto exclusivo dos nossos tempos.

O problema é que, hoje, talvez o futebol tenha se tornado só isso.

Não sei se o futebol conseguiria se manter hoje sem essa modernização.

Claro, o futebol da várzea, das escolas, das quadrinhas, esse nunca vai morrer, pois nele somos atores principais e não precisamos de muita firula pra reproduzir.

Mas pra quem gosta de acompanhar seu time nos estádios, ter ídolos, enfim, encarar o futebol como algo mais do que um mero produto do entretenimento, a coisa fica mais difícil.

Acho que funciona como uma bola de neve.

Em cada momento de crise que o futebol atravessou, foram criadas soluções que o tornaram cada vez mais dependente da espetacularização, e parece que o caminho é sem volta.

Cada passo de modernização coloca mais uma pá de terra no futebol que eu idealizo.

Pode ser que esse processo tenha um limite.

Pode ser que o processo fique insuportável e o futebol precise retomar suas origens para não desaparecer.

Mas pode ser que ele se repita infinitamente.

Pode ser que sempre exista uma solução inovadora que acelere mais ainda a roda, sem que ele se espatife de vez.

De qualquer maneira, continuarei condenando o processo.

Um processo longo que torna difícil identificar quando o futebol se tornou moderno.

E que, apesar de continuar acompanhando, não me agrada.

Não ao futebol moderno.

Antes que definam o que ele é.


E que acabem com o pouco que restou.