sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O bom desencanto
















Foram 2 meses diferentes.
Diferentes dos 18 que passei aqui antes.
Aquela foi uma época de descobertas.
Era tudo novidade.
Me sentia numa aventura.
Em todos os lugares.
Viajando.
Andando na rua.
Em casa.
O mundo se abria diante dos meus olhos.
A cabeça fervilhava.
O coração palpitava.
Talvez fosse a idade.
A época da minha vida.
Não queria voltar.
E quase não voltei.
Agora é diferente.
Moçambique não é mais novidade.
Mas isso não quer dizer que não aprendi.
Muito pelo contrário.
É que geralmente encanta-se pelo novo.
Pelo desconhecido.
Pelas descobertas.
Mas não pela sua casa.
Você pode gostar muito dela.
Mas não se encanta cada vez que entra.
É a mesma coisa aqui hoje.
Foi um período de reencontros.
Os amigos de antes.
Os lugares.
Os sabores.
Os cheiros.
Andei despreocupado na rua.
Sem a ânsia de conhecer.
De fotografar.
Apenas de fazer parte.
Olhei melhor os problemas.
Que são muitos.
E que meu encanto passado cegava.
Mas isso é bom.
Pois toda casa tem problemas.
Hoje acho que posso criticar mais.
Sem medo de ser ingrato.
Ou superficial.
Eu tinha uma dúvida antes.
Por muito tempo me perturbou.
Na verdade era uma escolha.
Moçambique ou Brasil.
Hoje entendo melhor.
Não preciso escolher.
Posso viver no Brasil.
Sem perder o contato com Moçambique.
Um pé aí, outro aqui.
A academia é um caminho.
Os amigos são a garantia.
Garantia que faço parte daqui.
Pouco que seja.
Por isso digo de desencanto.
A repetição vira rotina.
E a rotina não encanta.
É minha terceira vez aqui.
Por períodos consideráveis.
Posso dizer que estou em casa.
Com suas virtudes e problemas.
Mas em casa.
Em kaya.
O encanto passou.
Mas o carinho cresceu.
Que venham mais vezes.
Por hora tenho que voltar.
Pois o bom filho à casa torna.
Cedo ou tarde, torna.
E eu, por sorte, tenho duas.

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