quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Hierarquias

  











Amanhã darei minha segunda aula na vida.
Achei que o mais difícil era passar o conteúdo.
E a parte fácil seria preparar a aula.
Ledo engano.
Ainda mais quando você ensina uma matéria que não domina.
Mesmo que seja História.
Resolvi que a aula seria sobre América Latina.
E fui ler sobre os pré-colombianos.
Que me desculpem os historiadores.
Não sei se essa é a melhor nomenclatura.
Mas é a que sempre tive na cabeça.
Aceito sugestões.
De qualquer maneira, fui ler.
E desenterrei um tema que sempre me intrigou.
As hierarquias.
Incas, Maias, Astecas.
Todos, em um determinado momento, se hierarquizaram.
Há os que moram melhor e trabalham menos.
E há os que trabalham mais e moram pior.
Sabe-se lá de onde tiraram quem faz o quê na sociedade.
Mas, ao que me parece, funcionava assim.
E não era só lá.
As sociedades africanas eram todas fortemente hierarquizadas.
No Grande Zimbabwe, tinha os líderes, e os camponeses.
Uns moravam na cidade fortificada, e mandavam.
Outros na periferia, e trabalhavam.
Desde sempre.
Mais à frente, os franceses propuseram a igualdade.
E se organizaram para isso.
Com alguns líderes, lógico.
O socialismo também pregava a igualdade total.
Com o Estado no comando.
E alguns poucos no comando desse comando.
O capitalismo, então, nem se fala.
Assume mesmo que alguns mandam e alguns trabalham.
Mas a hierarquia não é só mandar e fazer.
Hierarquia é um certo respeito que se tem pelo outro.
Que por algum motivo, está acima ou abaixo de você.
Muitas vezes essa ordenação é feita pelo tempo.
O novato tem pouca voz.
Seja no trabalho, seja na faculdade.
Seja na família.
Ou existe algo mais hierárquico que a família?
O avô, o pai, o filho.
O irmão mais velho, o mais novo, o do meio.
O culto aos ancestrais.
As religiões, inclusive, são assim.
Existem entidades superiores e inferiores.
Espírito elevados e imperfeitos.
Deus e os deuses.
A hierarquia, sinto, está em tudo.
E daí decorre minha grande dúvida.
Devemos concordar ou combater as hierarquias?
Se são tão antigas, e presentes em tudo, não seriam necessárias?
Não fariam parte da nossa estrutura?
Não provém de um certo mérito?
Não são elas que promovem um respeito entre os homens?
Por outro lado, que respeito é esse?
Em que um, seja pela força, seja pelo tempo, está acima do outro?
E os que já nasceram na base da pirâmide?
Que não têm tempo, nem respaldo, pra subir de degrau?
Tenho costume de sempre procurar um meio termo.
A terceira margem do rio.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Não devemos acatar cegamente as hierarquias.
Nem tampouco trucidá-las.
O que vou falar não é novidade pra ninguém.
Mas é sempre bom reforçar a idéia.
Que sigam as hierarquias.
Mas que sejam invertidas.

2 comentários:

Lika FRÔ disse...

Oi lindo!
Fico feliz que tenha escrito no blog. Gosto de blog. Gosto que você escreva. Gosto de você! Aliás, gostei da reflexão, sou favorável à opinião, porém concordo com uma hierarquia desde que ela sirva somente para uma melhor organização, da forma contrária sou contra. Te amo de montão!

Rogers disse...

A sua análise merece respeito e muita consideração grande António. Eu concordo com o que voce diz e como voce diz. Entretanto penso que o ponto de partida está no facto de a diversidade ser uma caracteristica presente ao longo dos tempos e dos espaços. A questao é de onde emergem esses discursos e de quem emergem. Ou seja quem fala e a partir de que posiçao fala sobre a diversidade. Um bom exemplo é o mapa "invertido" que voce postou. Esse é o género de discurso geográfico diferente que na hierarquia dos saberes sobre o mundo é marginalizado sem possibilidade de ascender um degrau. Portanto as hierarquias emergem dos discursos e nao das diversidades. Um exemplo vívido são as hierarquias de género. Homens e mulheres são diferentes porém ao longo do tempo e dos espaços foi construído e legitimado um discurso discriminatório com base na óbvia diferença entre homens e mulheres.