Amanhã darei minha segunda aula na vida.
Achei que o mais
difícil era passar o conteúdo.
E a parte fácil seria
preparar a aula.
Ledo engano.
Ainda mais quando você
ensina uma matéria que não domina.
Mesmo que seja
História.
Resolvi que a aula seria
sobre América Latina.
E fui ler sobre os
pré-colombianos.
Que me desculpem os
historiadores.
Não sei se essa é a
melhor nomenclatura.
Mas é a que sempre
tive na cabeça.
Aceito sugestões.
De qualquer maneira,
fui ler.
E desenterrei um tema
que sempre me intrigou.
As hierarquias.
Incas, Maias, Astecas.
Todos, em um
determinado momento, se hierarquizaram.
Há os que moram melhor
e trabalham menos.
E há os que trabalham
mais e moram pior.
Sabe-se lá de onde
tiraram quem faz o quê na sociedade.
Mas, ao que me parece,
funcionava assim.
E não era só lá.
As sociedades
africanas eram todas fortemente hierarquizadas.
No Grande Zimbabwe,
tinha os líderes, e os camponeses.
Uns moravam na cidade
fortificada, e mandavam.
Outros na periferia, e
trabalhavam.
Desde sempre.
Mais à frente, os
franceses propuseram a igualdade.
E se organizaram para
isso.
Com alguns líderes,
lógico.
O socialismo também
pregava a igualdade total.
Com o Estado no
comando.
E alguns poucos no
comando desse comando.
O capitalismo, então,
nem se fala.
Assume mesmo que
alguns mandam e alguns trabalham.
Mas a hierarquia não é
só mandar e fazer.
Hierarquia é um certo
respeito que se tem pelo outro.
Que por algum motivo,
está acima ou abaixo de você.
Muitas vezes essa
ordenação é feita pelo tempo.
O novato tem pouca
voz.
Seja no trabalho, seja
na faculdade.
Seja na família.
Ou existe algo mais
hierárquico que a família?
O avô, o pai, o filho.
O irmão mais velho, o mais
novo, o do meio.
O culto aos
ancestrais.
As religiões,
inclusive, são assim.
Existem entidades
superiores e inferiores.
Espírito elevados e
imperfeitos.
Deus e os deuses.
A hierarquia, sinto,
está em tudo.
E daí decorre minha
grande dúvida.
Devemos concordar ou
combater as hierarquias?
Se são tão antigas, e
presentes em tudo, não seriam necessárias?
Não fariam parte da
nossa estrutura?
Não provém de um certo
mérito?
Não são elas que
promovem um respeito entre os homens?
Por outro lado, que
respeito é esse?
Em que um, seja pela
força, seja pelo tempo, está acima do outro?
E os que já nasceram
na base da pirâmide?
Que não têm tempo, nem
respaldo, pra subir de degrau?
Tenho costume de
sempre procurar um meio termo.
A terceira margem do
rio.
Nem tanto ao mar, nem
tanto à terra.
Não devemos acatar
cegamente as hierarquias.
Nem tampouco
trucidá-las.
O que vou falar não é
novidade pra ninguém.
Mas é sempre bom
reforçar a idéia.
Que sigam as
hierarquias.
Mas que sejam
invertidas.
2 comentários:
Oi lindo!
Fico feliz que tenha escrito no blog. Gosto de blog. Gosto que você escreva. Gosto de você! Aliás, gostei da reflexão, sou favorável à opinião, porém concordo com uma hierarquia desde que ela sirva somente para uma melhor organização, da forma contrária sou contra. Te amo de montão!
A sua análise merece respeito e muita consideração grande António. Eu concordo com o que voce diz e como voce diz. Entretanto penso que o ponto de partida está no facto de a diversidade ser uma caracteristica presente ao longo dos tempos e dos espaços. A questao é de onde emergem esses discursos e de quem emergem. Ou seja quem fala e a partir de que posiçao fala sobre a diversidade. Um bom exemplo é o mapa "invertido" que voce postou. Esse é o género de discurso geográfico diferente que na hierarquia dos saberes sobre o mundo é marginalizado sem possibilidade de ascender um degrau. Portanto as hierarquias emergem dos discursos e nao das diversidades. Um exemplo vívido são as hierarquias de género. Homens e mulheres são diferentes porém ao longo do tempo e dos espaços foi construído e legitimado um discurso discriminatório com base na óbvia diferença entre homens e mulheres.
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