quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A política externa e o segundo turno












Ainda que o clima de xenofobia e falta de respeito instaurado com o segundo turno das eleições presidenciais tornem isso perigoso, inicio meu texto afirmando que já fiz minha escolha para a disputa.

Não foi minha escolha para o primeiro turno, mas o faria sem problema nenhum.

Votei, no domingo passado, na Luciana Genro, entendendo que uma guinada mais radical à esquerda se fazia necessária, e também por simpatia aos posicionamentos da candidata em diversos temas, mas tinha consciência de que não seria um voto vitorioso.

Assim, e apesar de saber que muitos eleitores do PSOL não pensam como eu, votei nela certo de que no segundo turno votaria para a reeleição da presidenta Dilma.

Nesse momento provavelmente muitos já estão inquietos, reunindo argumentos para contestar minha escolha e talvez até elaborando xingamentos que se enquadrem nas minhas características pessoais.

Infelizmente, a disputa à presidência mais uma vez caiu no velho embate entre PT e PSBD, levando consigo tudo que essa disputa contém.

O pessoal do centro-sul, como sempre, destila seu ódio sobre os que consideram vagabundos e incapazes de pensar, pelo fato exclusivo de não votar como eles e de ousarem participar da escolha do futuro do país que, pasmem, é de ambos.

Em ambos os lados da disputa, o maior esforço empreendido pelos eleitores é o de atacar e desmerecer o adversário, usando e abusando de retornos ao passado e informações duvidosas que supostamente tiram qualquer possibilidade de legitimidade do outro.

Quero deixar claro, mais uma vez, que não pretendo ser imparcial, e afirmo novamente que votarei e prefiro a Dilma do que o Aécio e as idéias do seu partido, mas reconheço que esses mecanismos de ataque são usados dos dois lados (e admito que é muito tentador usá-los, no que tenho tentado evitar).

Essa prática violenta, apesar de útil eleitoralmente, tira o foco das propostas que cada candidato tem para o país, que apesar de estarem disponíveis na internet, são praticamente inacessíveis ao eleitorado, seja por condições técnicas, seja por falta de tempo de ler tudo aquilo.

Contudo, talvez pela minha formação em Geografia, tenho especial interesse na questão da política externa, e apesar de saber que não é a única, nem mesmo a mais importante de todas para o país, pessoalmente considero fundamental para fazer minha escolha.

E nesse ponto considero a opção por Aécio um retrocesso sem tamanho.

Não faltam possibilidades de crítica aos governos Lula e Dilma, mas na questão das relações exteriores, não tenho dúvidas de que o avanço foi do nível “nunca antes na história desse país”.

Ainda que não tenha sido o rompimento que eu desejava, a diminuição da dependência dos EUA e da Europa são de se comemorar, mas o que mais me animou foi a aproximação com os países da América Latina e da África e, mais recentemente, o fortalecimento da relação com os BRICS.

Me parece meio claro que a hegemonia ocidental está em franca decadência, e não precisa ser nenhum especialista para entender que a China já se consolidou como uma nova candidata à liderança.

Essa liderança, porém, nos tempos de hoje é necessariamente compartilhada, multi-polar, e as alianças com a Rússia, Brasil, Índia e África do Sul são consideradas fundamentais para os chineses.

Aliado com esses países, integrado com a América Latina e dialogando com a África, o Brasil parece caminhar, se não para a desejada autonomia, para uma melhor condição de inserção no sistema mundial, principalmente no Terceiro Mundo.

Tenho para mim que a saída não está em olhar para o Norte, que pouco a pouco perde seu encanto e é, inclusive, gradualmente tomado pelos imigrantes dos países que há pouco tempo explorava sem dó.

Mas Aécio Neves não pensa assim.

Ele insiste em se reaproximar dos EUA e da Europa, e tudo leva a crer que todo o esforço em prol de uma união entre as Américas, a África e a Ásia, vai ser engavetada novamente, pelo menos por essas bandas.

E é por isso, mas não apenas, que voto em Dilma.

Espero que minha reflexão tenha contribuído um pouco para o debate acerca do segundo turno, tentei pensar nas propostas e possibilidades que os candidatos têm para um determinado assunto, mas sem perder de vista que estava me posicionando claramente.

Gostaria que o debate fosse ampliado, mas se possível sem ofensas e desqualificações.

Certamente tenho vontade de fazê-lo também, mas penso que, mesmo que a duras penas, o controle é importante.

E a discussão de idéias passa por ele.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quando invadiram nosso país e tentaram fazer lavagem cerebral na galera que aqui estava, já começava aí o início do PSDB. Desde então, a massa manipulável acredita que é muito mais vantagem estar ao lado dos ditos ricos e poderosos como EUA e Europa, do que iniciar uma aliança com os demais. Pois não fomos educados a ver vantagem nisso. É tudo um jogo para que as pessoas vejam vantagem ou não. Pelo condicionamento educacional, quem vai querer aliança com a África? O PT inseriu ensino de África, retomou os estudos de filosofia e sociologia nas escolas. Não está ideal, claro, mas é um passo. Um passo que desde a ditadura demorou muito para se iniciar. Meu medo - sim, medo. Muito medo! - é de que o PSDB pise em cima de tudo isso que se iniciou, principalemente em relação às alianças externas, como também, na educação! Como professora, estou de luto pelo Paraná e São Paulo onde a maioria é PSDB. Mas sigamos às utopias, pois são elas que nos fazem seguir em frente! Sou Dilma e estamos juntos nessa, companheiro! (hahahahaha, uma brincadeirinha pra concluir...) Beijos, te amo!