quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Lá e cá














Antes de qualquer coisa, é necessário dizer que minha última visita a Moçambique foi há 5 anos atrás.

Mais do que isso, totalizei apenas 1 ano e meio de estadia por lá, o que não é pouco enquanto intercâmbio, mas é certamente insuficiente para compreender a realidade política de um país.

Assim, por mais que, desde então, eu não tenha parado de acompanhar, mesmo que de muito longe, as notícias moçambicanas, é óbvio que não tenho muita autoridade pra falar do assunto das eleições deste 15 de outubro de 2014.

De qualquer maneira, como aqui no Brasil também passamos por um momento eleitoral, resolvi fazer um exercício comparativo das eleições nos dois países, inegavelmente mais próximos do que nunca por causa de Vales, Odebrechts, Embrapas e acordos bilaterais.

Existem hoje, em Moçambique três candidatos à presidência de três partidos diferentes.

O grande favorito, até onde pude apurar, é Filipe Nyusi, da Frelimo, que representa a continuidade do partido que está no poder desde 1975, muito por causa do papel que a Frelimo teve na luta de libertação nacional.

Partido aparentemente de esquerda, responsável por implantar o regime socialista por alguns anos no país, o que ouvi e tenho ouvido da Frelimo desde 2008 é que, além de ser também o responsável pela entrada de Moçambique no projeto neo-liberal (e as consequentes concessões e privatizações), os próprios dirigentes do partido são os empresários que comandam essa empreitada (entre eles o atual presidente, Armando Guebuza).

Mesmo assim, Filipe Nyusi apresenta-se como a mudança.

Sei que pode parecer imprudente o que vou falar, mas de certa forma vejo semelhanças (simbólicas, obviamente) da candidatura de Filipe Nyusi com a de Dilma Rousseff aqui no Brasil: continuidade do partido de esquerda no poder - sob o slogan da mudança -, e com acusações tanto de esquerdistas radicais, que o consideram parceiros íntimos do capital, quanto da oposição, devido às suspeitas de corrupção.

Também de maneira especulativa, imagino que a segunda força das eleições presidenciais moçambicanas é Afonso Dhlakama, da Renamo.

Da mesma maneira que não é consenso que o PSDB representa a direita no Brasil, eu não afirmaria com todas as letras que a Renamo é a direita moçambicana, mas historicamente ela é a grande força de oposição da Frelimo.

Igualmente ao PSDB no Brasil, porém, a Renamo dos tempos da independência representava (não sei se ainda representa) os interesses estadunidenses e britânicos no país, em oposição à orientação socialista da Frelimo.

Não conheço o projeto de governo de Dhlakama e da Renamo, mas é meio claro pra mim que, simbolicamente, sua candidatura equivale à oposição histórica ao partido no poder, aos mesmos moldes que aqui no Brasil.

A minha grande comparação com o Brasil, contudo, e que me fez pensar esse texto, está na terceira candidatura à presidência moçambicana, de Daviz Simango, do partido MDM.

Em 2009, como resultado da histórica polarização (conhece o termo?) entre Frelimo e Renamo, foi criado em Moçambique o MDM – Movimento Democrático Moçambicano -, e que representaria uma terceira via aos dois partidos principais.

Pouco a pouco, muitos moçambicanos aceitaram a proposta, e sobre a dualidade existente desde a independência surgiu uma nova força política.

Mais uma vez quero afirmar que não pretendo comparar as propostas e o que representa Daviz Simango em Moçambique e o estranho fenômeno Marina Silva no Brasil, mas acho válido destacar esse movimento comum nos dois países.

Obviamente que os processos históricos – principalmente a duração dos ciclos -, são muito diferentes nos dois países, mas achei a comparação da situação política interessante.

Uma esquerda questionada, ambígua e presente no poder a algum tempo, uma oposição historicamente forte e associada à mudança e aos interesses ocidentais, e a ascensão de uma terceira via cada vez mais representativa.

Importante dizer, se aqui no Brasil já manifestei meu apoio à Dilma, em Moçambique não sou muito afeito à Frelimo, e admito não saber nada sobre Nyusi.


Mas as clivagens políticas em ambos os países, com sentidos muito parecidos, parecem escancarar as consequências de uma história comum marcada pelo colonialismo e pela desigualdade interna.

Um comentário:

Ruy Monteiro disse...

Achei massa tonio! Tem várias coisas semelhantes mesmo. Mas acho que é aquilo: semelhante até a décima página, depois cada país país é um país e tem uma história particular. De certo mesmo só o neoliberalismo comendo pelo meio e a estrangeirização de tudo e de todos.
Abração !