Antes
de qualquer coisa, é necessário dizer que minha última visita a Moçambique foi
há 5 anos atrás.
Mais
do que isso, totalizei apenas 1 ano e meio de estadia por lá, o que não é pouco
enquanto intercâmbio, mas é certamente insuficiente para compreender a realidade
política de um país.
Assim,
por mais que, desde então, eu não tenha parado de acompanhar, mesmo que de
muito longe, as notícias moçambicanas, é óbvio que não tenho muita autoridade
pra falar do assunto das eleições deste 15 de outubro de 2014.
De
qualquer maneira, como aqui no Brasil também passamos por um momento eleitoral,
resolvi fazer um exercício comparativo das eleições nos dois países,
inegavelmente mais próximos do que nunca por causa de Vales, Odebrechts,
Embrapas e acordos bilaterais.
Existem
hoje, em Moçambique três candidatos à presidência de três partidos diferentes.
O
grande favorito, até onde pude apurar, é Filipe Nyusi, da Frelimo, que representa a
continuidade do partido que está no poder desde 1975, muito por causa do papel
que a Frelimo teve na luta de libertação nacional.
Partido
aparentemente de esquerda, responsável por implantar o regime socialista por
alguns anos no país, o que ouvi e tenho ouvido da Frelimo desde 2008 é que,
além de ser também o responsável pela entrada de Moçambique no projeto neo-liberal
(e as consequentes concessões e privatizações), os próprios dirigentes do
partido são os empresários que comandam essa empreitada (entre eles o atual
presidente, Armando Guebuza).
Mesmo
assim, Filipe Nyusi apresenta-se como a mudança.
Sei
que pode parecer imprudente o que vou falar, mas de certa forma vejo
semelhanças (simbólicas, obviamente) da candidatura de Filipe Nyusi com a de
Dilma Rousseff aqui no Brasil: continuidade do partido de esquerda no poder -
sob o slogan da mudança -, e com acusações tanto de esquerdistas radicais, que
o consideram parceiros íntimos do capital, quanto da oposição, devido às
suspeitas de corrupção.
Também
de maneira especulativa, imagino que a segunda força das eleições presidenciais
moçambicanas é Afonso Dhlakama, da Renamo.
Da
mesma maneira que não é consenso que o PSDB representa a direita no Brasil, eu
não afirmaria com todas as letras que a Renamo é a direita moçambicana, mas
historicamente ela é a grande força de oposição da Frelimo.
Igualmente
ao PSDB no Brasil, porém, a Renamo dos tempos da independência representava (não
sei se ainda representa) os interesses estadunidenses e britânicos no país, em
oposição à orientação socialista da Frelimo.
Não
conheço o projeto de governo de Dhlakama e da Renamo, mas é meio claro pra mim
que, simbolicamente, sua candidatura equivale à oposição histórica ao partido
no poder, aos mesmos moldes que aqui no Brasil.
A
minha grande comparação com o Brasil, contudo, e que me fez pensar esse texto,
está na terceira candidatura à presidência moçambicana, de Daviz Simango, do
partido MDM.
Em
2009, como resultado da histórica polarização (conhece o termo?) entre Frelimo
e Renamo, foi criado em Moçambique o MDM – Movimento Democrático Moçambicano -,
e que representaria uma terceira via aos dois partidos principais.
Pouco
a pouco, muitos moçambicanos aceitaram a proposta, e sobre a dualidade
existente desde a independência surgiu uma nova força política.
Mais
uma vez quero afirmar que não pretendo comparar as propostas e o que representa
Daviz Simango em Moçambique e o estranho fenômeno Marina Silva no Brasil, mas
acho válido destacar esse movimento comum nos dois países.
Obviamente
que os processos históricos – principalmente a duração dos ciclos -, são muito
diferentes nos dois países, mas achei a comparação da situação política interessante.
Uma
esquerda questionada, ambígua e presente no poder a algum tempo, uma oposição historicamente
forte e associada à mudança e aos interesses ocidentais, e a ascensão de uma
terceira via cada vez mais representativa.
Importante
dizer, se aqui no Brasil já manifestei meu apoio à Dilma, em Moçambique não sou
muito afeito à Frelimo, e admito não saber nada sobre Nyusi.
Mas
as clivagens políticas em ambos os países, com sentidos muito parecidos,
parecem escancarar as consequências de uma história comum marcada pelo
colonialismo e pela desigualdade interna.
Um comentário:
Achei massa tonio! Tem várias coisas semelhantes mesmo. Mas acho que é aquilo: semelhante até a décima página, depois cada país país é um país e tem uma história particular. De certo mesmo só o neoliberalismo comendo pelo meio e a estrangeirização de tudo e de todos.
Abração !
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