Sou
daqueles que acredita que o futebol, dentro de campo, é um pouco espelho da
sociedade em que se insere.
Não
estou dizendo com isso que os jogadores brasileiros são naturalmente mais
malandros, e os europeus mais durões, o que é verdade apenas em parte.
O
ponto onde quero chegar é que a forma de se jogar o jogo é inspirada no
espírito da época - o tal do zeitgeist.
Assim,
a “revolução futebolística” do carrossel holandês da década de 70, dos
jogadores sem posição e independentes, refletia um pouco a juventude de um
período de criatividade e liberdade, não apenas na Holanda mas em todo o mundo.
Mais
ou menos nessa linha, toda a história do futebol soviético, enquanto existiu,
tinha aquele ar de futebol coletivo e operário, pragmático, onde não existiam
astros e individualidades, e que de certa forma incomodava o resto do mundo.
Não
vou nem falar da Democracia Corintiana da década de 80 pra não encher a bola
deles – mas fica a menção.
A
seleção espanhola já não assusta mais como nos últimos anos, mas o conceito do tiki-taka invadiu o mundo, clamando por
um futebol rápido e com trocas de passes à exaustão, onde não se pode mais
segurar a bola, apenas passá-la.
Minha
intenção não é argumentar que esse futebol é feio e não funciona, porque a
Alemanha foi campeã do mundo ano passado jogando assim, e de vez em quando
surgem bons jogos nesse estilo, como o jogo da própria Alemanha contra a
Argélia na Copa passada.
Mas
essa idéia de futebol acelerado, com a bola circulando sem parar, só poderia
ter sido criada no período atual, onde tudo (de bom e de ruim) acontece com uma
velocidade frenética, e onde é mais importante colocar as coisas em movimento
do que entendê-las.
O
futebol do tiki-taka não perdoa os
lentos, os que pensam devagar e os que não são fisicamente exemplares.
Jogar
bem, hoje, é jogar rápido.
Alguma
semelhança com nossa sociedade contemporânea?
Sinceramente,
e apesar de não ter vivenciado a época, gosto de ver as jogadas do futebol dos
anos 80, bem mais lento do que o nosso, mas que parecia encantar mais.
Acho
incrível, por outro lado, a capacidade de resistência de um jogador como o
Danilo, que mesmo com essa obsessão pelo futebol rápido consegue, a passos
lentos, ditar o ritmo dos jogos e ser decisivo em todo lugar que passou.
É
claro que gosto de ver um contra-ataque veloz, ou um golaço numa troca de
passes rápida, mas no geral prefiro ver um jogo cadenciado, mais tranqüilo, do
que passar o jogo inteiro sem conseguir respirar ou tomar um gole de cerveja.
Espero,
de coração, que essa moda do futebol frenético seja passageira.
Que
seja rápida que nem seu conceito.
Porque
de frenético já basta o cotidiano.
O
futebol não merece isso.
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