Tenho
sido repetitivo.
Com
todos que pedem notícias.
Querendo
saber como está o trabalho.
A
resposta é sempre a mesma.
Devagarzinho
está saindo.
Lentamente.
Esqueçam
o ritmo de São Paulo.
Onde
tudo é pra ontem.
Onde
a pressão é a ordem dia.
A
cidade da buzina.
Da
impaciência.
Eis
uma grande diferença daqui.
Já
disse isso antes.
Mas
aqui, o tempo é outro.
O
tempo de espera.
A
hora marcada.
O
processo de fazer contatos.
As
ondas são sempre mais longas.
Alguns
amigos discordam.
Dizem
que Maputo é frenética.
Discordo
também.
Ok,
há trânsito.
Um
pouco de correria.
Realmente
difere do resto do país.
Mas
mesmo assim é mais lento.
Mais
lento que nosso tempo paulistano.
Aqui
nada se faz com pressa.
E
não adianta insistir.
Aliás,
só piora.
Na
verdade pode até dar resultado.
Você
pode até conseguir o que quer.
Mas
ferindo a lógica local.
E
estremecendo a relação.
Tenho
tentado seguir a lógica.
Claro,
faço um pouco de pressão.
Mas
num outro intervalo.
Espero
alguns dias após a visita.
Anoto
um telefone aqui.
Faço
uma ligação ali.
Um
e-mail pra reforçar.
E
tem saído.
Garanto,
com paciência sai.
Não
é que não querem ajudar.
Bom,
alguns não querem mesmo.
Tive
pedidos negados.
Mas
no geral, as pessoas são solícitas.
Só
que tem seu próprio tempo.
Aí,
o problema é outro.
Dois
meses é muito pouco.
É
o tempo de iniciar os contatos.
Estabelecer
uma relação.
Sondar,
investigar.
Esperar
uma disponibilidade.
Na
verdade o tempo é relativo.
Dois
meses é pouco para o trabalho.
Mas
é muito para a distância.
Para
a saudade.
Lidar
com o tempo.
Um
exercício contínuo.
Às
vezes ansiosidade.
Às
vezes calma.
Às
vezes pressa.
Às
vezes paciência.
Há
tempos venho insistido nisso.
Em
pensar sobre o tempo.
No
que fazer em relação a ele.
E
cheguei a uma conclusão.
Na
verdade não fui eu.
Foi
o Linton Kwesi Johnson.
Músico,
sociólogo e poeta jamaicano.
Compositor
de uma música.
Um
hino.
Pelo
menos pra mim.
Chama-se
“More time”.
É
bem simples.
Só
diz que precisamos de mais tempo.
Mais
tempo para criar.
Mais
tempo para edificar.
Mais
tempo para contemplar.
Mais
tempo para ruminar.
Não
necessariamente nessa ordem.
Mas
a mensagem é essa.
Precisamos
de mais tempo.
É
difícil.
Mas
eu tenho tentado entender isso.
Moçambique
já entendeu faz tempo.
3 comentários:
Oi meu amor!
Ual! Confesso que fiquei angustiada. Estou nesse ritmo frenético querendo que você volte o quanto antes e nem me dei conta de que você precisaria de mais tempo, do tempo Moçambicano. Moçambique é bem parecido com a Amazônia, engraçado isso. Lá também via ansiedade nas pessoas, mas menos sofrimento. Aqui sofremos com a ansiedade, mas nesses lugares de ritmos leves, eles até são ansiosos, mas não sofrem com isso. Eu aqui sofro com a sua ausência e isso acarreta ansiedade. Você aí sofre com as diferenças e com a cobrança daqui de ter resultados. Espero que esse ritmo diferente te faça bem, te traga mais reflexões como essa. Daqui eu espero que esse ritmo frenético não nos angustie mais, que ele não interfira na paciência que estou tentando manter para te esperar e que consigamos entender o tempo! Te amo pra sempre :)
O tempo não é escasso para quem vem do Brasil, mas para os mocambicanos também. Os ingleses consideram que TIME IS MONEY aqui isso não há. É só esperar. Tudo ao nosso rítmo, até que Deus entender, tudo se consegue. Vais conseguir, mas na lógica de tempo de Mocambique.
Conhece a canção Sobre o Tempo - Pato Fu? Me acompanhou na adolescência e ainda hoje:
Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio
Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio
Como zune um novo sedã
Tempo, tempo, tempo mano velho
Tempo, tempo, tempo mano velho
Vai, vai, vai, vai, vai, vai
Tempo amigo seja legal
Conto contigo pela madrugada
Só me derrube no final
Ah-ah-ah ah-ah
Ah-ah-ah ah-ah
Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio
Como zune um novo sedã
Tempo, tempo, tempo mano velho
Tempo, tempo, tempo mano velho
Vai, vai, vai, vai, vai, vai
Tempo amigo seja legal
Conto contigo pela madrugada
Só me derrube no final... oh-oh... oh-oh ah...
Uh... uh... ah au
Uh... uh... ah au
Vai, vai, vai, vai, vai, vai
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