segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Raízes aladas




















Ser pássaro.
Ser árvore.
Bater asas.
Fincar raízes.
Conhecer o mundo.
Conhecer a vizinhança a fundo.
É o dilema de quem tem herança migrante.
Avós.
Paternos e maternos.
Pai.
Mãe.
Todos migraram para nunca mais voltar.
Uns mudaram de continente.
Alguns de Estado.
Outros apenas de cidade.
Eu já migrei também.
Migrei pra outro continente.
1 ano e meio.
E cá estou por mais 2 meses.
Mas não são só asas.
Voando criei raízes.
Em duas cidades.
O pássaro e a árvore se completam.
Todo vôo precisa de pouso.
E não há melhor pouso que uma árvore.
Enraizada no chão.
Mas que também precisa voar.
Também precisa levar suas sementes pra longe.
Sozinha não conseguiria.
Por isso existem os pássaros.
Não há árvore sem pássaro.
Não há pássaro sem árvore.
Asas para voar.
Raízes para sustentar.
Um movimento para o céu.
Outro para o chão.
Forças opostas.
E complementares.
Equilibrar as forças.
Eis o desafio.
Nenhuma pode vencer.
Precisam sempre estar em confronto.
Do contrário, não há criação do novo.
Entre asas e raízes, cria-se a vida.
As escolhas são sempre momentâneas.
Tempos de asas.
Tempos de raízes.
Mas a vida é totalidade.
E na totalidade, asas e raízes coexistem.

Ainda bem.

3 comentários:

Anônimo disse...

Que belo e poético o seu texto, Guiça. É por isso que insisto que escreva sempre, e que compartilhe com o mundo.
Aproveite a companhia de si mesmo, que é uma excelente companhia, (acredite nisso, pois sabemos), e continue produzindo textos como este!
Beijos enormes! Ju

minog disse...

Belo texto antony, bem taoísta.

. disse...

Que ótimo pedaço de escrito, Antonio! Parabéns!
Outra coisa, você escreve de forma dialética... não é brincadeira, não... rs