quarta-feira, 9 de abril de 2014

Questão de Ritmo


Gostaria de fugir da mesmice.
De não insistir no óbvio.
Mas, de início, não tem como.
Quero falar sobre ritmo.
E falo a partir de um lugar.
São Paulo.
A cidade alucinante.
A cidade da correria.
Da hora marcada.
Do relógio despótico.
Do ritmo incessante.
Mas sei que não é exclusividade nossa.
É o ritmo das grandes cidades.
De qualquer lugar.
Do Brasil, dos Estados Unidos, da Índia.
Mais do que isso.
É o ritmo do capitalismo.
Não quero entrar numa discussão conceitual.
Quando digo capitalismo, digo duas coisas:
Exploração e consumismo.
E o ritmo deles.
Tem um filme sobre isso.
Chama-se “Koyaanisqatsi”.
Pra quem não viu, recomendo.
A partir dele, coloco uma posição minha.
Minha maneira de burlar o capitalismo.
Pelo menos acredito ser assim.
Diminuir o ritmo.
Não entrar na corrida.
Acompanhar o mínimo possível.
Não acho que se tenha que parar de consumir.
Mas que se consuma mais devagar.
Não quero que paremos de trabalhar.
Mas que trabalhemos numa velocidade mais digna.
E tenho pra mim que é possível.
É uma mudança de atitude pessoal.
Não é simples, admito.
Mesmo eu, me pego acelerando.
Consumindo, correndo.
Ficando ansioso.
Mas acho possível.
E acho que por isso comecei a gostar de reggae.
Pela proposta de diminuir o ritmo.
Literalmente.
O ritmo da música é mais lento.
E mais pulsante.
Tem algumas músicas que falam disso na letra.
“Take it easy”, do Hopeton Lewis.
“More time”, do Linton Kwesi Johnson.
Deve ter mais.
Mas não lembro.
Acho que por isso também gostei de Moçambique.
A pressa não é uma característica moçambicana.
Pelo menos não era enquanto estive por lá.
Em Maputo, diminui o ritmo.
E achei mais agradável.
Mas quero deixar claro uma coisa.
Essa opção de diminuir o ritmo é minha.
Não me parece ser uma tendência geral.
Ainda que todos reconheçam o sufoco de hoje em dia.
Então, mais do que defender uma diminuição de ritmo.
Defendo que cada um siga seu próprio ritmo.
Acelere e reduza a marcha conforme necessário.
E conforme a possibilidade.
Pois aposto que agora você está com o tempo contado.

2 comentários:

Lika FRÔ disse...

Oi lindo! Hoje me peguei pensando que o ritmo estava lento e percebi que não é o ritmo que está lendo e sim eu que me acostumei com o ritmo acelerado. Não quero me acostumar a isso, faz mal, dá tosse!

Antonio Guiça disse...

é isso mesmo linda! a gente acostuma de tal forma com o ritmo acelerado que acha que tem algo errado quando está calmo, quando deveria ser o contrário! a saúde (física e mental) agradeceria!