Gostaria de fugir da
mesmice.
De não insistir no óbvio.
Mas, de início, não
tem como.
Quero falar sobre
ritmo.
E falo a partir de um
lugar.
São Paulo.
A cidade alucinante.
A cidade da correria.
Da hora marcada.
Do relógio despótico.
Do ritmo incessante.
Mas sei que não é
exclusividade nossa.
É o ritmo das grandes
cidades.
De qualquer lugar.
Do Brasil, dos Estados
Unidos, da Índia.
Mais do que isso.
É o ritmo do
capitalismo.
Não quero entrar numa
discussão conceitual.
Quando digo
capitalismo, digo duas coisas:
Exploração e
consumismo.
E o ritmo deles.
Tem um filme sobre
isso.
Chama-se “Koyaanisqatsi”.
Pra quem não viu,
recomendo.
A partir dele, coloco
uma posição minha.
Minha maneira de
burlar o capitalismo.
Pelo menos acredito
ser assim.
Diminuir o ritmo.
Não entrar na corrida.
Acompanhar o mínimo
possível.
Não acho que se tenha
que parar de consumir.
Mas que se consuma
mais devagar.
Não quero que paremos
de trabalhar.
Mas que trabalhemos numa
velocidade mais digna.
E tenho pra mim que é
possível.
É uma mudança de
atitude pessoal.
Não é simples, admito.
Mesmo eu, me pego
acelerando.
Consumindo, correndo.
Ficando ansioso.
Mas acho possível.
E acho que por isso
comecei a gostar de reggae.
Pela proposta de
diminuir o ritmo.
Literalmente.
O ritmo da música é
mais lento.
E mais pulsante.
Tem algumas músicas
que falam disso na letra.
“Take it easy”, do Hopeton Lewis.
“More time”, do Linton Kwesi Johnson.
Deve ter mais.
Mas não lembro.
Acho que por isso também
gostei de Moçambique.
A pressa não é uma
característica moçambicana.
Pelo menos não era enquanto
estive por lá.
Em Maputo, diminui o
ritmo.
E achei mais agradável.
Mas quero deixar claro
uma coisa.
Essa opção de diminuir
o ritmo é minha.
Não me parece ser uma
tendência geral.
Ainda que todos
reconheçam o sufoco de hoje em dia.
Então, mais do que
defender uma diminuição de ritmo.
Defendo que cada um
siga seu próprio ritmo.
Acelere e reduza a
marcha conforme necessário.
E conforme a
possibilidade.
Pois aposto que agora
você está com o tempo contado.
2 comentários:
Oi lindo! Hoje me peguei pensando que o ritmo estava lento e percebi que não é o ritmo que está lendo e sim eu que me acostumei com o ritmo acelerado. Não quero me acostumar a isso, faz mal, dá tosse!
é isso mesmo linda! a gente acostuma de tal forma com o ritmo acelerado que acha que tem algo errado quando está calmo, quando deveria ser o contrário! a saúde (física e mental) agradeceria!
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