Bernardo nasceu em uma
família rica.
Cresceu em um
apartamento grande, num bairro nobre.
Estudou, obviamente,
em um colégio particular.
Muito conceituado.
E caro.
Mas seus pais podiam
pagar.
Pra ele e pro seu irmão.
Bernardo não fazia
muita coisa além de ir pra escola.
Jogava futebol, vídeo-game.
Passava boas horas na
internet.
Mas estudava
razoavelmente.
E geralmente tirava
boas notas.
Gostava muito de História.
Admirava os grandes
feitos, as conquistas, as guerras.
Mas também se
incomodava com a exploração e o colonialismo.
E foi prestar
vestibular para a área.
Wallace teve um
caminho diferente.
Morava em uma casa apertada,
bem longe do centro.
Seus pais não podiam
pagar um colégio particular.
Nem pra ele nem pros
seus seis irmãos.
Estudou sempre em
escola pública.
À noite.
Durante o dia,
trabalhava.
Mas sempre que o tempo
deixava, estudava.
Assim como Bernardo,
gostava de História.
Admirava os grandes
feitos, as conquistas, as guerras.
Mas também se
incomodava com a exploração e o colonialismo.
E também foi prestar
vestibular para a área.
Havia a faculdade pública
e a particular.
Os dois prestaram
ambas.
Teoricamente, a lógica
seguiria.
Quem pode pagar a
privada, paga.
Quem não pode, faz a pública.
Mas não era bem assim.
Era o oposto da época
de colégio.
No colégio, o ensino
privado era considerado melhor.
O público era destinado
a quem não tinha acesso ao privado.
Já na faculdade, a
menina dos olhos era o ensino público.
A concorrência maior.
Os professores mais
conceituados.
O privado era
destinado a quem não tinha acesso ao público.
Bernardo passou na
faculdade pública.
Bem ele, que tinha
dinheiro pra pagar faculdade.
Mas não iria.
Wallace só passou na
faculdade privada.
Bem ele, que não tinha
dinheiro pra pagar faculdade.
Mas teria que pagar.
Durante a faculdade,
Bernardo aproveitou ao máximo.
Passava os dias
curtindo o que a faculdade oferecia.
E estudava bastante.
Como não pagava
mensalidade, sobrava dinheiro.
Pra viajar, comprar
livros, participar de eventos.
Fez jus ao
investimento dos seus pais.
Depois de formado, foi
à luta.
Queria ser professor.
Já Wallace seguiu sua
toada.
A faculdade era paga.
E ninguém podia pagar
por ele.
Como antes, trabalhava
o dia todo.
E ia pra faculdade à
noite.
Agora, porém,
trabalhava mais.
Afinal, as contas eram
maiores.
Dormia pouco.
Passava o final de
semana estudando.
Mas gostava muito do
que fazia.
E orgulhava seus pais.
Depois de formado, foi
à luta.
Queria ser professor.
Mais uma vez, o
caminho de ambos era o mesmo.
Mas, mais uma vez, os
caminhos se invertiam.
Bernardo cresceu no
ensino particular
Graduou-se no público.
E agora era professor
de uma escola privada.
Que pagava bem melhor.
Possibilitando um
futuro parecido para seus filhos.
Wallace cresceu no
ensino público
Graduou-se no
particular.
E agora era professor
de escola pública.
Onde o salário é mais
baixo.
Possibilitando um
futuro parecido para seus filhos.
Ambos voltaram às
origens.
Sem mudar
drasticamente de vida.
A roda parece
girar sempre no mesmo sentido.
Há exceções, sem dúvida.
Cada pessoa tem sua
história particular.
Faz suas opções.
Econômicas e ideológicas.
Mas o movimento geral
parece ser esse.
Não só na educação.
Nem apenas nas ciências
humanas.
Mas na sociedade como
um todo.
E não se pode condenar
nenhum caminho.
Bem ou mal, todos tem
contas a pagar.
Umas maiores, outras
menores.
E o fazem conforme é
possível.
Conforme suas
oportunidades e possibilidades.
Bernardo gosta do que
faz.
Wallace também.
Só pra constar.
Meu caminho é mais próximo
do de Bernardo.
Cresci no ensino
privado.
Hoje estudo no ensino
público.
E dou aula particular.
Um comentário:
Oi lindo! Adorei, você sabe, já te falei, mas quero deixar registrado aqui. Infelizmente existe essa realidade, muito embora não seja generalizada, mas é a grande maioria. Feliz são os que tem e conseguem aproveitar as oportunidades. Não que os outros sejam infelizes, mas seria muito mais fácil se ambos tivessem oportunidades iguais. Beijooos :*
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