Hoje em dia, tudo é
permitido mudar.
Pode-se mudar de
nacionalidade.
Pode-se mudar de
religião.
Pode-se mudar de
orientação política.
Pode-se mudar de opção
sexual.
Pode-se mudar, até, de
sexo.
Mas uma coisa não se
pode mudar.
De time de futebol.
É, talvez, a maior
heresia contemporânea.
Não é vista com bons
olhos por ninguém.
Virar a casaca, nem
pensar.
Romper com seu time é
romper consigo mesmo.
Com tudo aquilo que
você defende e torce.
Com sua escolha
simbólica e ideológica.
Ainda que essa escolha
não seja, assim, tão consciente.
Geralmente escolhe-se
um time muito jovem.
Geralmente é o time
dos pais, ou da família.
Ou, ao contrário, o
maior rival, pra provocar.
Pode ser o time que
está ganhando tudo.
Ou o que não ganha
nada.
Mas que a torcida não
para de apoiar.
Muitas vezes, é o time
da cidade onde você mora no momento.
De qualquer maneira, a
escolha é sempre circunstancial.
Assumir a essência do
time é uma tarefa posterior.
O São Paulo é o time
da elite.
Dos ricos, dos soberanos.
O Corinthians é o time
da massa.
Dos pobres, da maloca.
São opostos.
Não se misturam.
Ou se é uma coisa, ou
outra.
Isso pros torcedores.
Porque o torcedor pode
não mudar de time.
Mas instituição muda
sem dó.
O São Paulo sempre foi
o time do capital.
O modelo de
clube-empresa.
Mas há tempos não é o
único.
Não há, talvez, um
único time grande que não seja.
Não há santos.
São todos empresas que
visam o lucro.
O Corinthians foi,
talvez, o último a se alinhar.
Mas entrou com tudo.
Ronaldo, Nike, estádio
próprio.
Marketing, ingresso
elitista, programa de sócio-torcedor.
A roda gira sem parar
no Parque São Jorge.
Não deixou de ser um
clube de massa.
Mas o time do povo é,
cada vez mais, do capital.
Já no São Paulo, a
história também mudou.
Aquela aura de modelo
a ser seguido acabou.
Diretoria amadora.
Picuinhas e briguinhas
internas.
A politicagem domina a
instituição.
E a enfraquece.
Além disso, não é
mais, nem de longe, um time de elite.
Ainda que o Aidar
insista.
A torcida cresceu.
Em São Paulo e no Brasil.
É a 3ª maior do país.
Os ingressos, agora,
são a preços populares.
Em pouco tempo, terá o
estádio mais defasado da cidade.
O time da elite é,
cada vez mais, da massa.
Mas as simbologias
ficam.
O São Paulo representa
a elite.
O Corinthians, o povo.
Na prática, os dois
são bem parecidos.
Massificados e
capitalistas.
Ambos apoiados por
ricos e pobres.
Mas, no imaginário,
são opostos.
E é proibido
demonstrar afeto pelo outro.
Sou são-paulino.
Optei e morrerei
são-paulino.
Mas gosto bastante da
nossa atual aproximação popular.
Bem mais do que da
nossa imagem de mauricinhos.
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