domingo, 11 de maio de 2014

Mais próximos do que parece...



Hoje em dia, tudo é permitido mudar.
Pode-se mudar de nacionalidade.
Pode-se mudar de religião.
Pode-se mudar de orientação política.
Pode-se mudar de opção sexual.
Pode-se mudar, até, de sexo.
Mas uma coisa não se pode mudar.
De time de futebol.
É, talvez, a maior heresia contemporânea.
Não é vista com bons olhos por ninguém.
Virar a casaca, nem pensar.
Romper com seu time é romper consigo mesmo.
Com tudo aquilo que você defende e torce.
Com sua escolha simbólica e ideológica.
Ainda que essa escolha não seja, assim, tão consciente.
Geralmente escolhe-se um time muito jovem.
Geralmente é o time dos pais, ou da família.
Ou, ao contrário, o maior rival, pra provocar.
Pode ser o time que está ganhando tudo.
Ou o que não ganha nada.
Mas que a torcida não para de apoiar.
Muitas vezes, é o time da cidade onde você mora no momento.
De qualquer maneira, a escolha é sempre circunstancial.
Assumir a essência do time é uma tarefa posterior.
O São Paulo é o time da elite.
Dos ricos, dos soberanos.
O Corinthians é o time da massa.
Dos pobres, da maloca.
São opostos.
Não se misturam.
Ou se é uma coisa, ou outra.
Isso pros torcedores.
Porque o torcedor pode não mudar de time.
Mas instituição muda sem dó.
O São Paulo sempre foi o time do capital.
O modelo de clube-empresa.
Mas há tempos não é o único.
Não há, talvez, um único time grande que não seja.
Não há santos.
São todos empresas que visam o lucro.
O Corinthians foi, talvez, o último a se alinhar.
Mas entrou com tudo.
Ronaldo, Nike, estádio próprio.
Marketing, ingresso elitista, programa de sócio-torcedor.
A roda gira sem parar no Parque São Jorge.
Não deixou de ser um clube de massa.
Mas o time do povo é, cada vez mais, do capital.
Já no São Paulo, a história também mudou.
Aquela aura de modelo a ser seguido acabou.
Diretoria amadora.
Picuinhas e briguinhas internas.
A politicagem domina a instituição.
E a enfraquece.
Além disso, não é mais, nem de longe, um time de elite.
Ainda que o Aidar insista.
A torcida cresceu.
Em São Paulo e no Brasil.
É a 3ª maior do país.
Os ingressos, agora, são a preços populares.
Em pouco tempo, terá o estádio mais defasado da cidade.
O time da elite é, cada vez mais, da massa.
Mas as simbologias ficam.
O São Paulo representa a elite.
O Corinthians, o povo.
Na prática, os dois são bem parecidos.
Massificados e capitalistas.
Ambos apoiados por ricos e pobres.
Mas, no imaginário, são opostos.
E é proibido demonstrar afeto pelo outro.
Sou são-paulino.
Optei e morrerei são-paulino.
Mas gosto bastante da nossa atual aproximação popular.
Bem mais do que da nossa imagem de mauricinhos.

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