terça-feira, 3 de junho de 2014

As mensalidades e a USP

A discussão é longa.
Os argumentos intermináveis.
É o tipo da discussão em que não há consenso.
Alguns defendem a USP gratuita.
Geralmente alunos e ex-alunos.
E os que não têm condições de pagar uma faculdade.
Outros defendem a USP paga.
Raramente são alunos de lá.
E geralmente têm condições de pagar.
Ainda que existam pessoas curiosas.
Que não podem pagar, mas defendem que seja pago.
Vai entender.
Mas não fiquemos apenas no “pagar ou não pagar”.
Existem outros pontos interessantes a discutir.
Um deles é o porquê dessa discussão.
Que sempre existiu.
Mas ressurgiu com tudo nos últimos meses.
Será que tem a ver com a Copa?
Atualmente tudo tem.
Será que tem a ver com as eleições?
Tenho quase certeza que sim.
Mas veio à tona com uma crise.
A crise financeira da USP.
Dizem que está quebrada.
Que o Estado não pode mais financiá-la.
O governo estadual, pra ser mais exato.
Aquele mesmo que nomeia o reitor.
Há muito tempo é o PSDB.
Aquele, das privatizações.
Curioso, não?
De qualquer maneira, chovem números.
Salários, gastos, porcentagens.
A USP gasta mais do que ganha.
Gastar, aliás, não foi problema na última gestão.
Ninguém tinha do que reclamar.
E não reclamou mesmo.
E esse foi o problema.
Ninguém reclama de barriga cheia.
Mas uma hora a comida acaba.
E quando se compra muito caviar.
Não sobra pro arroz com feijão.
Então, não é de se espantar que haja uma crise financeira.
E que se ventile a cobrança de mensalidades.
Questão levantada pela Folha de S. Paulo essa semana.
Mais uma curiosidade.
A USP foi fundada na década de 1930.
Um dos seus fundadores foi Júlio de Mesquita Filho.
Ligado ao Estado de S. Paulo.
A conexão é livre.
A fundação da USP tinha alguns objetivos.
Combater o Estado centralizado de Vargas.
Criando uma elite intelectual para tal.
Combater o Estado.
Criar uma elite.
Cobrar mensalidades.
A conexão também é livre.
Mas dessa vez já dei uma direcionada.
A justificativa pra cobrança já apareceu.
Na Folha de S. Paulo.
Quem estuda na USP tem dinheiro pra pagar.
Verdade em parte.
Realmente, há muita gente que pode.
E o buraco, aí, é bem mais embaixo.
Pode pagar, geralmente, pois fez escola particular.
Cursinho particular.
E pôde pagar por eles.
Ainda que tenha bastante gente que fez escola pública.
Principalmente na FFLCH.
A solução, assim, é questionável.
Parece que a escola particular facilita mesmo o acesso à USP.
A solução seria, então, cobrar mensalidades?
Elitizar mais do que já é?
Não era melhor aprimorar a escola pública?
Democratizar mais o acesso?
Tornar a USP mais pública do que já é?
Eu sei que é uma quimera.
Que o assunto é antigo.
Mas é bom reforçar.
Antes que cobrem mensalidades também nas escolas públicas.
Só uma coisa.
Não pensem que o imposto diminuiu com a cobrança.
As pessoas pagam plano de saúde.
E pagam imposto.
Sobre o plano de saúde e sobre o SUS.
O transporte rodoviário é assegurado por empresas.
Que cobram caro.
E muitos preferem comprar carro.
E pagam imposto.
Sobre o ônibus e sobre o carro.
Com a USP será a mesma coisa.
Serão cobradas mensalidades.
E imposto também.
Até onde sei.
Não defendo um Estado totalitário.
Nem acho que o Estado funciona como deveria.
Longe disso.
Mas acredito no setor público.
Na sua acessibilidade.
E na sua obrigação de dar contrapartidas à população.
Por menores que sejam.
Coisa que o setor privado não tem.
E que a USP deixaria de ter se fosse privatizada.
A cobrança de mensalidades é um passo.

Nenhum comentário: