Quando o Zidane deu
uma cabeçada no Materazzi, eu gostei.
Ele foi o maior
jogador que eu pude ver jogar.
E nunca foi conhecido
por ser um cara de cabeça boa.
Na Copa de 98, foi
expulso logo no primeiro jogo.
Pegou dois jogos de
suspensão.
Pra depois deitar e
rolar contra o Brasil na final.
Ele é era um exemplo
de craque de cabeça quente.
Francês de origem
argelina, deve ter ouvido muita coisa na vida.
Dentro e fora dos
campos.
É só ver a
atual relação dos franceses com os imigrantes.
Mas virou um mito do
futebol francês.
Estava na sua segunda
final de Copa do Mundo.
E a Copa do Mundo mexe
com a cabeça das pessoas
Torcedores e atletas.
Mais do que isso, aquela
final era seu último jogo pela seleção.
Um dos últimos da sua
carreira.
Já tinha feito um gol
no jogo.
De pênalti.
De cavadinha.
Bateu na trave e no chão.
Devia estar
cansadíssimo.
Física e mentalmente.
E aí veio o Materazzi.
Que nunca foi um exemplo
de caráter.
Pelo menos é o que eu
ouvia.
E falou alguma coisa
que irritou o franco-argelino.
A cabeçada não deve
ter doído muito.
Se fosse pra machucar,
ele dava uma voadora na cabeça.
Um soco, uma
cotovelada, sei lá.
Pra mim foi um
desabafo.
Uma forma de mandar
tudo à merda.
Tudo que o irritou a
carreira inteira.
Um ato simbólico.
Que agrediu mais do
que machucou.
Lembrei de tudo isso
por causa do Suárez.
Guardadas as devidas
proporções, claro.
Não é nem de longe da
qualidade do Zidane.
E não era uma final de
Copa.
Mas é bom jogador.
E o lance foi
igualmente inusitado.
E foi contra um
italiano.
Em primeiro lugar, o Suárez
é uma figura curiosa.
Raçudo, artilheiro,
briguento, catimbeiro.
É uma caricatura do jogador
uruguaio.
Mas já tinha mordido
um adversário por duas vezes.
E morder é uma coisa
um tanto quando esquisita.
Muito mais brando do
que uma cotovelada.
Um carrinho por trás,
um soco.
Mas é muito mais
agressivo.
Simbolicamente
agressivo.
Mais do que isso, não é
um comportamento esperado.
Dentro e fora do
campo.
E foi um ato puramente
instintivo.
São 34 câmeras em
volta do campo.
E ele já havia sido
punido duas vezes por morder.
Sabia que podia ser
excluído da Copa.
E aos olhos do mundo
todo, mordeu.
Se pensasse um pouco,
não faria.
A não ser que não
quisesse mais jogar.
Mas mordeu.
Dizem que o Chiellini
também não é flor que se cheire.
Seria, por assim
dizer, um novo Materazzi.
A mordida não deve ter
sido gratuita.
Mas mordeu.
Sinceramente, não vejo
tanto problema.
Acho até divertido.
Não acho que ele tenha
sérios problemas mentais.
Nem acho que quem sai
no tapa com alguém tenha menos.
Ou mais.
Como disse, gostei da
cabeçada do Zidane.
Mas também não quero
romantizar o Suárez.
No passado, ele foi
acusado de racismo.
Nega até a morte.
Mas foi acusado,
julgado e punido.
Com uma pena menor do
que a da mordida.
Mas o esperar o que da
FIFA?
De qualquer maneira,
também não quero demonizá-lo.
Principalmente por
algo que não posso garantir que ocorreu.
Herói ou vilão, tanto
faz.
Mas a Copa ganhou um
personagem.
Não ia jogar a Copa.
Jogou e destruiu a
Inglaterra.
Depois mordeu.
A Copa fica sem um bom
jogador.
Mas ganha um momento
marcante.
Goste você ou não do Suárez.
Um comentário:
Eu mordo você!
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