quinta-feira, 26 de junho de 2014

De Zidane a Suárez



Quando o Zidane deu uma cabeçada no Materazzi, eu gostei.
Ele foi o maior jogador que eu pude ver jogar.
E nunca foi conhecido por ser um cara de cabeça boa.
Na Copa de 98, foi expulso logo no primeiro jogo.
Pegou dois jogos de suspensão.
Pra depois deitar e rolar contra o Brasil na final.
Ele é era um exemplo de craque de cabeça quente.
Francês de origem argelina, deve ter ouvido muita coisa na vida.
Dentro e fora dos campos.
É só ver a atual relação dos franceses com os imigrantes.
Mas virou um mito do futebol francês.
Estava na sua segunda final de Copa do Mundo.
E a Copa do Mundo mexe com a cabeça das pessoas
Torcedores e atletas.
Mais do que isso, aquela final era seu último jogo pela seleção.
Um dos últimos da sua carreira.
Já tinha feito um gol no jogo.
De pênalti.
De cavadinha.
Bateu na trave e no chão.
Devia estar cansadíssimo.
Física e mentalmente.
E aí veio o Materazzi.
Que nunca foi um exemplo de caráter.
Pelo menos é o que eu ouvia.
E falou alguma coisa que irritou o franco-argelino.
A cabeçada não deve ter doído muito.
Se fosse pra machucar, ele dava uma voadora na cabeça.
Um soco, uma cotovelada, sei lá.
Pra mim foi um desabafo.
Uma forma de mandar tudo à merda.
Tudo que o irritou a carreira inteira.
Um ato simbólico.
Que agrediu mais do que machucou.
Lembrei de tudo isso por causa do Suárez.
Guardadas as devidas proporções, claro.
Não é nem de longe da qualidade do Zidane.
E não era uma final de Copa.
Mas é bom jogador.
E o lance foi igualmente inusitado.
E foi contra um italiano.
Em primeiro lugar, o Suárez é uma figura curiosa.
Raçudo, artilheiro, briguento, catimbeiro.
É uma caricatura do jogador uruguaio.
Mas já tinha mordido um adversário por duas vezes.
E morder é uma coisa um tanto quando esquisita.
Muito mais brando do que uma cotovelada.
Um carrinho por trás, um soco.
Mas é muito mais agressivo.
Simbolicamente agressivo.
Mais do que isso, não é um comportamento esperado.
Dentro e fora do campo.
E foi um ato puramente instintivo.
São 34 câmeras em volta do campo.
E ele já havia sido punido duas vezes por morder.
Sabia que podia ser excluído da Copa.
E aos olhos do mundo todo, mordeu.
Se pensasse um pouco, não faria.
A não ser que não quisesse mais jogar.
Mas mordeu.
Dizem que o Chiellini também não é flor que se cheire.
Seria, por assim dizer, um novo Materazzi.
A mordida não deve ter sido gratuita.
Mas mordeu.
Sinceramente, não vejo tanto problema.
Acho até divertido.
Não acho que ele tenha sérios problemas mentais.
Nem acho que quem sai no tapa com alguém tenha menos.
Ou mais.
Como disse, gostei da cabeçada do Zidane.
Mas também não quero romantizar o Suárez.
No passado, ele foi acusado de racismo.
Nega até a morte.
Mas foi acusado, julgado e punido.
Com uma pena menor do que a da mordida.
Mas o esperar o que da FIFA?
De qualquer maneira, também não quero demonizá-lo.
Principalmente por algo que não posso garantir que ocorreu.
Herói ou vilão, tanto faz.
Mas a Copa ganhou um personagem.
Não ia jogar a Copa.
Jogou e destruiu a Inglaterra.
Depois mordeu.
A Copa fica sem um bom jogador.
Mas ganha um momento marcante.
Goste você ou não do Suárez.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu mordo você!