sexta-feira, 6 de junho de 2014

Greve sim, greve não, eis as regras



Engraçado.
Os professores ficaram mais de um mês em greve.
As universidades públicas estão há 10 dias paradas.
E ninguém ficou nem aí.
Minto.
Alguns se indignaram.
Quando os professores foram às ruas.
Fechando avenidas.
Parando o trânsito.
“Ferindo o direito de ir e vir das pessoas”.
Esse era o discurso.
Os alunos estão sem aulas?
Dane-se.
Não atrapalha ninguém.
Nem a economia.
Esse é o pensamento.
Ah, mas quando atrapalha...
Os ônibus ficaram dois dias em greve.
O metrô está também no segundo dia.
E parece que o mundo está acabando.
A mídia cobre como se fosse guerra.
A polícia já começou a colocar as manguinhas de fora.
O governo criminaliza a greve.
E a justiça endossa.
A justificativa é padrão.
“A greve prejudica os trabalhadores”.
Como se os metroviários não fossem trabalhadores.
Prejudicados normalmente.
Não em dias de greve.
Mas todos os dias.
A preocupação, claramente, não é a com a população.
Com a dificuldade que ela enfrenta em dias de greve.
Ônibus lotado tem todo dia.
Trânsito tem todo dia.
Metrô falhando tem todo dia.
Mas prejuízo financeiro não.
Pelo contrário.
Quanto mais cheio o ônibus.
Quanto menos ônibus na rua.
Mais lucro.
O metrô falha?
Acontece.
Mas quem está lá dentro já pagou.
Agora, experimenta paralisar por um dia.
Faça uma empresa perder dinheiro.
Atrapalhe os planos do governo.
Não sobra pedra sobre pedra.
A mídia, claro, ajuda.
Incita o repúdio à greve.
E muitas pessoas entram na onda.
Sentem-se profundamente prejudicadas.
Mas quando os professores pararam nem ligaram.
Inclusive apoiaram.
Uma vez que não foram incomodados diretamente.
“Tem que protestar mesmo”.
“Vamos melhorar a educação”.
“Fora Dilma!”.
Bastou incomodar, o discurso muda.
“Oportunistas”
“Quem sai perdendo é o trabalhador”.
“Também quero aumento de salário”.
“E o direito de ir e vir?”
O raciocínio é simples.
Não atrapalhou?
Apoiado.
Atrapalhou?
Sou contra.
As empresas são sempre contra.
O governo também.
Reconhecem o direito a greve.
Contanto que não atrapalhe.
Principalmente as que atrapalham mais.
Principalmente na época da Copa.
Assim, as greves agora têm regras.
Regras para minimizar o impacto das greves.
Pra que as greves não atrapalhem.
E pra que percam o sentido de serem greves.

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