quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Hora de ir com calma

Tem muitas coisas que podem ser ditas depois de um episódio como esse da morte do candidato Eduardo Campos.

A primeira, e mais óbvia, é que a morte de um candidato que se apresentava como uma alternativa aos dois principais concorrentes fatalmente levantará suspeitas.

Trilhões de especialistas discorrerão sobre as possibilidades de falha mecânica e humana, outros farão investigações que localizarão pessoas em lugares estranhos fazendo coisas não convencionais, e a mídia, mais do que nunca, se esforçará em transformar tudo isso em uma narrativa convergente para sua posição política.

Não será a primeira vez no mundo, e mesmo no Brasil, que um político que “incomoda” morre no meio do processo de eleição (entre campanha e posse), e eu acho impossível que não passe na cabeça de todos, mesmo que rapidamente, uma grande teoria conspiratória.

No meio disso tudo, já começo a ver um movimento para torná-lo herói, ou até um mártir, por parte da imprensa, o que me assusta bastante, afinal até ontem ninguém dava muita bola pra ele.

Começa a ser resgatado seu histórico político familiar, são feitas comparações, e de repente ele passa, depois de morto, a ser a melhor opção para as eleições.

Estou curioso para saber a que ponto o episódio vai comover a população e alavancar a eleição da Marina Silva, provável substituta, e que quero acreditar não ter nada com isso.

Mas descendo do universo político para o individual, o do acidente em si, também vejo algumas coisas interessantes.

É impressionante como um acidente aéreo causa um tumulto desproporcionalmente maior do que os outros, independente se tinha um candidato a presidência no avião ou não (o que faz diferença na repercussão, mas não nas perdas humanas).

Acidentes em estradas matam uma quantidade absurda de pessoas todos os dias, sem falar nas mortes cotidianas na periferia, mas basta cair um avião, por menor que seja, que a mídia transforma num evento divisor de águas das nossas vidas.

Não quero diminuir a importância da perda de vidas, qualquer vida perdida é importante, do candidato ao morador de rua, mas a imprensa aproveita a plástica do acidente aéreo, e as personalidades envolvidas, para repetir infinitamente o assunto, polemizar, ganhar audiência e imprimir seus pontos de vista.

O acidente de hoje é impactante por si só, mas no que vai se tornar é uma incógnita.

Mais do que nunca, é hora de redobrar a atenção, verificar o maior número de fontes possíveis de informação e tentar identificar as distorções.

O que aconteceu é um prato cheio para reviravoltas inconsequentes, e a mídia é quem comanda essas ações.

Aproveito o momento para indicar um documentário que acaba de entrar em cartaz, e que certamente ajudará a filtrar tudo que vem por aí nos próximos dias, semanas e meses.

Chama-se “O Mercado de Notícias”, do Jorge Furtado.

Obviamente também é um ponto de vista, mas que pelo menos propõe que façamos um exercício de desconstrução das notícias que acompanhamos.

Tudo que virá daqui em diante terá matizes fortes.

E não é hora de fugir delas.

Pelo contrário, é hora de encará-las.

Mas com muita reflexão.

É hora de ter calma.


Antes que deixe de ser uma opção.

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