Não
é a primeira vez que toco no assunto por aqui, mas acho que ele é um assunto
importante e recorrente, por isso a insistência.
Pensando
nos principais assuntos dos últimos dias, e tentando achar um ponto comum entre
eles, é possível dizer que a principal convergência é a criação de uma
atmosfera polarizada nas mídias e nas redes sociais.
A
guerra entre Israel e Palestina, as versões do acidente na Ucrânia e as
eleições de outubro aqui no Brasil fazem parecer que não há espaços para
ponderações – ou se defende um lado, ou outro.
Com
a morte do Ariano Suassuna, circulou um texto escrito por ele sobre “esquerda e
direita”, e por mais que eu me esforce em pensar que os representantes de cada um
são cada vez mais complexos, é impensável afirmar que não existam mais.
Me
assusta um pouco o fato dessas polarizações generalizadas acontecerem em
períodos de conflito, como a ditadura militar no Brasil e as diversas situações
de que guerra que ouvi falar, onde se situar no meio do caminho equivale a ser
recriminado por todos.
A
possibilidade de um discurso híbrido, que abarque ambas as extremidades em uma
solução comum, sempre me pareceu atraente, e foi o que sempre tentei buscar,
mas há alguns meses atrás em uma aula escutei que a principal característica do
híbrido, pensando na biologia, é a esterilidade.
Ou
seja, levando pro plano intelectual, ou ideológico, a hibridização leva à
estagnação criativa.
Mas
se o discurso híbrido paralisa a criatividade, a prevalência de um discurso
único é igualmente paralisante.
E
aí fico numa encruzilhada.
Ao
levantar uma bandeira indiscriminadamente, quebra-se a possibilidade da
esterilidade, mas geralmente leva ao ódio e à esperança de seu discurso ser vencedor
e dominante.
Fico
aterrorizado com a ideia de Israel, dos Estados Unidos e da direita saírem
vencedores dos atuais embates, e do que poderia vir a seguir com o aumento do
poder para eles.
Da
mesma maneira que um poder irrestrito para a Palestina, para a Rússia e para a esquerda
cega me deixa ressabiado com o que pode acontecer.
Nos
assuntos mencionados, me posiciono a favor dos últimos, mas por mais nervos que
me dêem os argumentos contrários, tento pensar que infelizmente são
necessários.
Confesso
que tenho mania de ser o advogado do diabo, de sempre tentar ir na contramão dos
argumento, pra enfim criar a terceira via.
Posicionar-se
na terceira via é cada vez mais difícil nos dias de hoje.
É
mais ou menos como a situação de quem tenta separar uma briga: apanha mais do
que quem está batendo e não ganha nada com isso.
Mas
tento acreditar, e aí é mesmo uma questão de fé, a mesma fé que move os
defensores das extremidades, que acomodar os discursos é uma boa saída.
Não
a saída final e redentora, mas a saída momentânea que, confrontada com outras
acomodações, gera novos embates.
Estou
convencido que embates são necessários para novos contornos.
A
tal da destruição criativa.
Mas
que sejam embates novos.
Velhos
embates produzem pouca solução.
Tão
ou menos do que o discurso híbrido.
Um comentário:
A terceira margem do rio é possível e seu nome é DIALÉTICA :)
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