segunda-feira, 28 de julho de 2014

A terceira margem do rio é válida?

Não é a primeira vez que toco no assunto por aqui, mas acho que ele é um assunto importante e recorrente, por isso a insistência.

Pensando nos principais assuntos dos últimos dias, e tentando achar um ponto comum entre eles, é possível dizer que a principal convergência é a criação de uma atmosfera polarizada nas mídias e nas redes sociais.

A guerra entre Israel e Palestina, as versões do acidente na Ucrânia e as eleições de outubro aqui no Brasil fazem parecer que não há espaços para ponderações – ou se defende um lado, ou outro.

Com a morte do Ariano Suassuna, circulou um texto escrito por ele sobre “esquerda e direita”, e por mais que eu me esforce em pensar que os representantes de cada um são cada vez mais complexos, é impensável afirmar que não existam mais.

Me assusta um pouco o fato dessas polarizações generalizadas acontecerem em períodos de conflito, como a ditadura militar no Brasil e as diversas situações de que guerra que ouvi falar, onde se situar no meio do caminho equivale a ser recriminado por todos.

A possibilidade de um discurso híbrido, que abarque ambas as extremidades em uma solução comum, sempre me pareceu atraente, e foi o que sempre tentei buscar, mas há alguns meses atrás em uma aula escutei que a principal característica do híbrido, pensando na biologia, é a esterilidade.

Ou seja, levando pro plano intelectual, ou ideológico, a hibridização leva à estagnação criativa.

Mas se o discurso híbrido paralisa a criatividade, a prevalência de um discurso único é igualmente paralisante.

E aí fico numa encruzilhada.

Ao levantar uma bandeira indiscriminadamente, quebra-se a possibilidade da esterilidade, mas geralmente leva ao ódio e à esperança de seu discurso ser vencedor e dominante.

Fico aterrorizado com a ideia de Israel, dos Estados Unidos e da direita saírem vencedores dos atuais embates, e do que poderia vir a seguir com o aumento do poder para eles.

Da mesma maneira que um poder irrestrito para a Palestina, para a Rússia e para a esquerda cega me deixa ressabiado com o que pode acontecer.

Nos assuntos mencionados, me posiciono a favor dos últimos, mas por mais nervos que me dêem os argumentos contrários, tento pensar que infelizmente são necessários.

Confesso que tenho mania de ser o advogado do diabo, de sempre tentar ir na contramão dos argumento, pra enfim criar a terceira via.

Posicionar-se na terceira via é cada vez mais difícil nos dias de hoje.

É mais ou menos como a situação de quem tenta separar uma briga: apanha mais do que quem está batendo e não ganha nada com isso.

Mas tento acreditar, e aí é mesmo uma questão de fé, a mesma fé que move os defensores das extremidades, que acomodar os discursos é uma boa saída.

Não a saída final e redentora, mas a saída momentânea que, confrontada com outras acomodações, gera novos embates.

Estou convencido que embates são necessários para novos contornos.

A tal da destruição criativa.

Mas que sejam embates novos.

Velhos embates produzem pouca solução.


Tão ou menos do que o discurso híbrido.

Um comentário:

Lika FRÔ disse...

A terceira margem do rio é possível e seu nome é DIALÉTICA :)