Passada a Copa, o tema que
substitui o torneio em todos os veículos de imprensa é a reunião de cúpula dos
BRICS essa semana, aqui no Brasil.
Não vou ficar aqui explicando quem
são os BRICS, falar das diferenças econômicas, culturais e políticas entre
eles, nem analisar seus indicadores sociais.
Não pretendo também dimensionar a
importância desse diálogo entre Estados do Sul Global (e a Rússia?) para a
ordem mundial, nem de seu papel como possível alternativa ao FMI e ao Banco
Mundial.
Esses temas não param de ser
discutidos tanto na grande mídia quanto na mídia independente, em reportagens,
colunas e blogs, então acho que eu não acrescentaria nada de muito novo.
Minha intenção, como pesquisador da
temática moçambicana, é tentar pensar o que a criação do Novo Banco de
Desenvolvimento dos BRICS pode significar para Moçambique nos próximos anos.
Ainda que esteja em fase bem
inicial, com recursos limitados para o que se propõe, esse banco de
investimento tem como objetivo financiar obras de infra-estrutura nos países do
bloco.
Pelo que entendi, porém, a idéia é
que com o tempo esses investimentos não fiquem restritos aos países formadores
dos BRICS, mas sim sejam feitos em outros países considerados “em
desenvolvimento”.
Um dos principais investimentos em
infra-estruturas que esse tipo de banco pode fazer é no setor de transportes,
já que um sistema de circulação bem estruturado é fundamental para as trocas
internacionais, uma das principais formas de integração que existe entre os
BRICS.
E aí entra Moçambique.
Moçambique é, historicamente,
território de passagem entre o interior da África Austral e o resto do mundo, e
uma boa parcela dos recursos econômicos moçambicanos provém do sistema de
circulação: portos, aeroportos, ferrovias, estradas.
Só por esses motivos, o interesse
dos BRICS em investir nas infra-estruturas de transporte em Moçambique já faria
algum sentido.
Olhando mais de perto a situação, a
possibilidade disso acontecer é maior ainda.
Tirando a Rússia, todos os outros Estados
que compõe os BRICS estão diretamente relacionados com as infra-estrutras de
transporte moçambicanas.
O Brasil, através da empresa Vale,
é hoje responsável por alguns trechos ferroviários do centro de Moçambique, por
conta do seu projeto de exploração de carvão mineral em Moatize, e da sua
necessidade de escoá-lo até o porto da Beira.
Da mesma forma, a Índia por algum
tempo foi responsável (não consegui apurar se ainda é) pela operação e
reabilitação de algumas ferrovias também da região central moçambicana, através
das empresas Rites e Ircon.
A China, com sua agressiva política
de inserção no continente africano, mantém investimentos na construção e
reabilitação de estradas por todo o país, visando facilitar o escoamento de
suas exportações e sua exploração de minérios em toda a África, além de
permitir também uma circulação de capital chinês.
Sem falar da África do Sul que,
vizinha de Moçambique, é interligada a ele por ferrovias e estradas, através do
Corredor de Maputo, tendo no porto da mesma cidade um interesse estratégico.
Dessa maneira, pelos objetivos
iniciais do banco de desenvolvimento dos BRICS, e pelo envolvimento bem próximo
de Moçambique com quase todos os países do bloco, não seria supreendente se o
país começasse a receber investimentos em suas infra-estruturas de transporte.
Resta saber quais seriam as
condições desses investimentos, já que com o último parceiro de reabilitação
estrutural dos transportes em Moçambique, o Banco Mundial, essas
condições não pareceram muito salutares à economia do país.
A verdade é que, com o novo banco
dos BRICS, o sistema de circulação de Moçambique tem tudo para ser alvo de
investimentos nos próximos anos.
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