quinta-feira, 17 de julho de 2014

MoçamBRICS


Passada a Copa, o tema que substitui o torneio em todos os veículos de imprensa é a reunião de cúpula dos BRICS essa semana, aqui no Brasil.

Não vou ficar aqui explicando quem são os BRICS, falar das diferenças econômicas, culturais e políticas entre eles, nem analisar seus indicadores sociais.

Não pretendo também dimensionar a importância desse diálogo entre Estados do Sul Global (e a Rússia?) para a ordem mundial, nem de seu papel como possível alternativa ao FMI e ao Banco Mundial.

Esses temas não param de ser discutidos tanto na grande mídia quanto na mídia independente, em reportagens, colunas e blogs, então acho que eu não acrescentaria nada de muito novo.

Minha intenção, como pesquisador da temática moçambicana, é tentar pensar o que a criação do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS pode significar para Moçambique nos próximos anos.

Ainda que esteja em fase bem inicial, com recursos limitados para o que se propõe, esse banco de investimento tem como objetivo financiar obras de infra-estrutura nos países do bloco.

Pelo que entendi, porém, a idéia é que com o tempo esses investimentos não fiquem restritos aos países formadores dos BRICS, mas sim sejam feitos em outros países considerados “em desenvolvimento”.

Um dos principais investimentos em infra-estruturas que esse tipo de banco pode fazer é no setor de transportes, já que um sistema de circulação bem estruturado é fundamental para as trocas internacionais, uma das principais formas de integração que existe entre os BRICS.

E aí entra Moçambique.

Moçambique é, historicamente, território de passagem entre o interior da África Austral e o resto do mundo, e uma boa parcela dos recursos econômicos moçambicanos provém do sistema de circulação: portos, aeroportos, ferrovias, estradas.

Só por esses motivos, o interesse dos BRICS em investir nas infra-estruturas de transporte em Moçambique já faria algum sentido.

Olhando mais de perto a situação, a possibilidade disso acontecer é maior ainda.

Tirando a Rússia, todos os outros Estados que compõe os BRICS estão diretamente relacionados com as infra-estrutras de transporte moçambicanas.

O Brasil, através da empresa Vale, é hoje responsável por alguns trechos ferroviários do centro de Moçambique, por conta do seu projeto de exploração de carvão mineral em Moatize, e da sua necessidade de escoá-lo até o porto da Beira.

Da mesma forma, a Índia por algum tempo foi responsável (não consegui apurar se ainda é) pela operação e reabilitação de algumas ferrovias também da região central moçambicana, através das empresas Rites e Ircon.

A China, com sua agressiva política de inserção no continente africano, mantém investimentos na construção e reabilitação de estradas por todo o país, visando facilitar o escoamento de suas exportações e sua exploração de minérios em toda a África, além de permitir também uma circulação de capital chinês.

Sem falar da África do Sul que, vizinha de Moçambique, é interligada a ele por ferrovias e estradas, através do Corredor de Maputo, tendo no porto da mesma cidade um interesse estratégico.

Dessa maneira, pelos objetivos iniciais do banco de desenvolvimento dos BRICS, e pelo envolvimento bem próximo de Moçambique com quase todos os países do bloco, não seria supreendente se o país começasse a receber investimentos em suas infra-estruturas de transporte.

Resta saber quais seriam as condições desses investimentos, já que com o último parceiro de reabilitação estrutural dos transportes em Moçambique, o Banco Mundial,  essas condições não pareceram muito salutares à economia do país.

A verdade é que, com o novo banco dos BRICS, o sistema de circulação de Moçambique tem tudo para ser alvo de investimentos nos próximos anos.

Nenhum comentário: