quarta-feira, 23 de julho de 2014

Quando a mudança parece distante

As eleições vão se aproximando, e as pesquisas contrariam tudo que tenho escutado sobre as gestões de governo atuais.

Tanto no governo estadual quanto no federal, os candidatos que lideram as intenções de voto buscam a reeleição, mas aparentemente as pessoas não estão satisfeitas com o que está sendo feito.

Na presidência, o descontentamento com os programas sociais implementados pelo PT ao longo dos últimos mandatos, além dos famosos escândalos de corrupção, parecem desagradar uma porcentagem grande das pessoas que conheço, mas incrivelmente a presidenta Dilma Rousseff segue em primeiro nas pesquisas tanto no primeiro quanto no segundo turno.

Da mesma maneira, a truculência policial e a crise de abastecimento, frutos das mais de duas décadas de gestão do PSDB em São Paulo, geraram uma avalanche de críticas e indignações contra o governador Geraldo Alckmin, que mesmo assim lidera com folga a corrida eleitoral.

Essa polaridade entre PT e PSDB, que tenho a impressão de nunca ter visto tão acirrada, dá a impressão de que realmente os dois partidos são extremos opostos, levando essa disputa a uma reedição do socialismo x capitalismo, ou esquerda x direita, da época da ditadura militar.

Mas será que é isso mesmo?

Olhando para a corrida presidencial, encabeçada pelos dois partidos, é possível pensar que as diferenças não são assim tão grandes como se imagina.

A política de repressão e criminalização dos protestos vistas ultimamente não é apenas um procedimento do governo estadual de São Paulo, mas o próprio governo federal não mediu esforços em realizá-la.

Ainda falando do PT, seria muito ingênuo imaginar que o interesse por trás da construção de um porto em Cuba, através da Odebrecht, seja reforçar uma aliança comunista, e não uma forma de inserção na economia capitalista internacional.

As últimas declarações do presidenciável Aécio Neves, de que daria continuidade aos programas sociais como o Bolsa Família e o Mais Médicos, ainda que puramente eleitoreiras, mostra que o PSDB entendeu que não é mais possível governar sem levar em consideração uma grande parcela da população, no que o PT foi, sem dúvidas, o primeiro a se preocupar,

Uma grande divergência entre os dois candidatos, e que pra mim tem um peso muito grande na escolha, é em relação à política externa.

Enquanto o PT prioriza a continuação do diálogo com os países do Sul, como os BRICS (sem perder de vista que são relações capitalistas), o PSDB mira uma retomada de contato com os Estados Unidos e seus aliados, o que me inclina a preferir a primeira opção.

Mas se nas últimas eleições fui convicto em votar no PT, dessa vez não tenho nem de longe a mesma clareza.

Sou totalmente a favor dos programas sociais e da política externa que o partido propõe, sem contar a inédita atenção a uma população historicamente esquecida, mas a forma de repressão às manifestações e as manobras políticas para aliviar a barra de acusados me fazem pensar que, talvez, seja mais do mesmo.

Como sempre fui do contra, gostaria de pensar uma terceira opção, mas não me parece possível, pelo menos não nessa eleição.

A aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, que se propõe como a terceira via, não mostra nada mais do que esse discurso alternativo, além de eu não simpatizar com nenhum dos dois.

O tal pastor Everaldo, que está em quarto lugar, apesar de deixar claro a importância que os evangélicos tem no Brasil hoje em dia, me dá arrepios.

Por simpatia, fui dar uma olhada no programa da Luciana Genro, do PSOL, e apesar de ler ótimos posicionamentos perante algumas questões, a parte de propostas me pareceu muito teórica, sem deixar claro as ações a serem efetuadas.

Durante muito tempo votei nulo, e gosto da ideia do voto nulo como voto de protesto, mas por outro lado fica uma ponta de vergonha por se abster do debate.

Há algum tempo venho refletindo, e lendo algumas (poucas) coisas, sobre o esgotamento da democracia representativa, e a urgência de uma maior participação da sociedade civil, que admito não saber definir muito bem.

Não gosto da ideia da minha participação se limitar a votar, obrigatoriamente, em alguém não escolhido por mim pra concorrer, e que uma vez eleito, não irá me consultar pra mais nada.

Também não sei dizer quais os melhores mecanismos de participação, e nem os limites entre participação generalizada e caos, mas me parece uma alternativa à inquestionável democracia em que vivemos.

Infelizmente, pra essa eleição ainda teremos que escolher alguém pra nos representar (ou anular o voto), mas a consciência de que, na prática, não diferem tanto assim entre si, e de que existe um outro caminho para além da representação, já é um pequeno passo.

Um comentário:

Lika FRÔ disse...

Vou dizer que não gosto do PSDB. No meu papel de professora, vejo que é normal esse ódio... querendo ou não, olhando para meu umbigo, o PT pelo menos fez com que voltasse as disciplinas que não são técnicas e isso, pra mim, é um grande passo para uma melhor educação... falei demais! Beijos, meu lindo!