quarta-feira, 30 de julho de 2014

Sobre o PT

O PT não é, hoje, um partido radical.

Posso estar enganado.

Não acompanhei, por causa da idade, a caminhada do PT desde o começo, mas ouço de diversos lados que a posição adotada a partir da eleição do Lula foi uma espécie de traição aos esquerdistas que levantaram a bandeira durante toda a trajetória.

Pode ser que essa política conciliatória que tem sido feita, principal alvo de críticas da esquerda, seja a parte inicial de um projeto.

Pode ser que negociar com bancos e empresas seja uma tarefa necessária na transição de 500 anos de sujeição irrestrita ao capitalismo internacional, e de privilégios somente à elite, em direção a um governo mais abrangente a toda a população.

Pode ser, inclusive, com a permissão de citar o Mandela, que seja impossível um partido entrar no poder com o mesmo radicalismo de quando era oposição.

Mas é inegável que, mesmo sendo pouco radical, o PT equilibrou melhor as coisas.

Ele não mostra, pelo menos por enquanto, querer um Estado totalitário como dizem (e como o sufocamento dos protestos faz parecer), mas um Estado um pouco mais forte e atuante, ao invés de uma marionete dos empresários e do capitalismo internacional.

Ele não deixou de fazer as vontades da elite, mas pela primeira vez desde a colonização alguém no poder resolveu olhar para a grande fatia da população economicamente explorada e esquecida.

Não virou um inimigo declarado dos Estados Unidos e da Europa, mas considerou a possibilidade de abrir novas relações igualmente fortes, como os BRICS, o Mercosul e a Unasul.

Decididamente, não é radical.

Tampouco conservador.

Seria, me arrisco a dizer, um meio termo.

Só não sei se meio termo é o que o Brasil precisa hoje.

Concordo que é necessário tempo para mudanças, e defendo uma transição gradual para tal, de maneira que 12 anos de PT no poder é muito pouco quando relacionado a 500 anos de conservadorismo.

Que, pelo andar da carruagem, a eleição ficará entre PT e PSDB, e a volta do PSDB simboliza um retrocesso no movimento, ainda que eu tenha pra mim que os anos de PT no poder tenham servido pra mostrar aos tucanos um caminho sem volta na política brasileira.

Gosto das mudanças mais profundas, e pouco populares, que o Haddad parece tentar implantar em São Paulo hoje em dia, e talvez por isso essa opção ainda esteja com o PT.

Mas não gosto da maneira cega com que os petistas levam o debate ultimamente, como se o PT fosse livre de críticas e uma mudança radical para a sociedade brasileira, coisa que não tem sido desde que chegou ao poder.

Repito, ele tem mexido em assuntos e elegido prioridades que realmente nunca estiveram no centro das atenções políticas do Brasil, mas daí a achar que é radical, e a única forma possível de governar, vai uma grande distância.

Não gosto de radicalismos, mas acho que é hora de desequilibrar esse meio termo e inverter um pouco a ordem que as coisas tem tido no Brasil nos últimos séculos.


Não vejo isso no PT a curto prazo.

Mas prefiro dar mais tempo a ele do que arriscar voltar ao que nunca funcionou.

Um comentário:

Anônimo disse...

É, milagre só acontece quando vamos a luta. Mudar 50 anos em 5 é abrir as pernas do País. Se é pra mudar que seja conforme as necessidades gerais e não de uma pequena elite favorecida há anos. Tem que dar tempo ao tempo. Pra mim o PT é o menos pior. Prefiro mil vezes ao ter que colocar os tucanos no poder. Esses daí só querem robôs compondo o Brasil... nossa, acordei xiita hoje! :P